Escritos na varanda

Imagino-me a escrever na varanda, ao fim da tarde, com o Sol a por-se no horizonte e uma bebida gelada ao lado. Como eu nem sequer tenho varanda, tudo isto é ilusão.

sábado, 19 de dezembro de 2015

Infinitamente... sem fim


Já la vão duas semanas. Não foi por esquecimento ou por falta de interesse, foi mesmo por falta de tempo.
Embora tarde, aqui vai, ainda a tempo, a história.

No princípio do verão do longínquo ano de 2013 o Luis Reina falou comigo e pediu-me para escrever um texto para uma exposição de pintura. Fez o mesmo pedido a outros amigos e no fim os vários textos seriam entregues a uma pintora sua amiga que iria pintar um quadro inspirado em cada um deles. O tema seria o espaço, o universo, as estrelas, os textos deveriam ser entregues o mais tardar até ao final desse ano, a pintora Rosalina Milhazes teria o ano de 2014 para pintar os quadros e a exposição seria no ano de 2015.
Um texto sobre as estrelas? Olha que eu não acredito nessas coisas da astrologia, ainda argumentei eu, a ver se me escapava. Não consegui. O Luís não deixou.
Os meses passaram, a inspiração não aparecia e o Luís não parava de perguntar pelo texto.
Foi já no mês de Dezembro que a ideia surgiu. Tinha estado a ler sobre a personagem e resolvi aproveitá-la para a minha história, a que dei o título de “Baba Yaga”.
O texto foi originalmente escrito em inglês, mas a pedido do Luís traduzi-o para português para que todos pudessem entender. Isto porque a exposição iria consistir na exibição dos quadros lado a lado com uma folha com a história que lhe deu origem.


Porque a maioria das pessoas não sabe quem é Baba Yaga, aqui ficam três links explicativos, o primeiro da Wikipédia, o segundo de um concerto de música clássica com uma obra de Mussorgsky cujo nome faz referência a Baba Yaga (The Hat of Baba Yaga), e o terceiro de uma versão rock da mesma obra, pela banda Emerson, Lake and Palmer.


E foi assim que no dia cinco de Dezembro fiquei a conhecer a Rosalina Milhazes e o Museu D. Diogo de Sousa, em Braga. A ambos e também ao Luís Reina o meu muito obrigado por me permitirem participar. Parabéns à Rosalina pela pintura. A parte que verdadeiramente (me) interessa da história está no quadro.


A exposição de pintura decorre em simultâneo com uma outra de fotografia (astrofotografia) de Diogo Magalhães Sant’Ana. A não perder também.
Pelo meio tivemos uma demonstração de Tai-Chi feita Pelo Diogo Sant’Ana e pelo Luis. Parabéns aos dois.


Por fim deixo aqui o link do Museu, e a história que deu origem ao quadro, primeiro na versão original inglesa e a seguir na tradução para português.
A exposição está patente ao público até 29 de Janeiro de 2016. Quem puder visite.




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Baba Yaga

It was a hot summer night. I was laying on the grass facing the infinite sky, full of millions of shining stars.

The earth was still warm from daylight Sun, the bed of herbs and leaves was soft and fluffy, the only sounds were my own breathing, the whisper of the wind on the trees and the hoot of a distant owl.

From time to time a falling star lights up in the celestial dome. Small signs of movement in an Universe that seems static.

Slowly my eyes began to close and I ceased to see the Polar Star, The Milky Way, and all the remaining millions of small dots that garnish the whole sky.

Suddenly a flying mortar appeared and stopped right in from of me. A hand  appeared  over  the  edge wielding a pestle and I heard a voice saying:
- I came to take you.
- Where are you taking me?
- To your beloved one.


The  simple  mention  of her removes all the fear from my thoughts. I entered  the  mortar  and  we  flew  across  the  universe  to a distant planet.


It was day, the sky was pink and instead of clouds there were huge flowers hanging from the top. Daylight was so intense I closed my eyes for a moment.

I felt a hand settled on my own hand.
- Baba Yaga, is that you? I asked.
The only answer was a greater grip on my hand.
I opened my eyes and…


She was there by my side, holding my hand and smiling at me.
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Baba Yaga

Era uma quente noite de verão. Estava deitado no chão olhando o céu infinito, cheio de milhões de estrelas.

A terra ainda estava quente dos raios do Sol, o leito de ervas e folhas era suave e macio, os únicos sons que ouvia eram a minha própria respiração, o murmurar da brisa nas folhas das árvores e o piar distante de uma coruja.

De tempos a tempos uma estrela cadente iluminava o céu. Pequenos sinais de movimento num Universo que parecia estático.

Lentamente os meus olhos foram-se fechando e deixei de ver a Estrela Polar, A Via Láctea, e todos os outros milhões de pequenos pontos luminosos que enfeitavam o céu.

Subitamente um almofariz voador apareceu e parou mesmo à minha frente. Uma mão surgiu sobre o rebordo, empunhando um pilão e ouvi uma voz dizer:
- Vim para te levar.
- Para onde me levas?
- Para junto da tua amada.
A simples menção dela fez com que o medo desaparecesse dos meus pensamentos. Entrei para o almofariz e voámos através do Universo até um planeta distante.

Era de dia, o céu era cor de rosa e em vez de nuvens tinha flores enormes pendendo do topo. A luz era tão intensa que fechei os olhos por um instante.

De repente senti uma mão pousar sobre a minha.
- Baba Yaga, és tu? Perguntei.
Em resposta a mão apertou a minha com mais força.
Abri os olhos e…

Ela estava a meu lado, segurando-me a mão e sorrindo para mim.

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Correcção: "a Universe" e não "an Universe".
Obrigado professora