Escritos na varanda

Imagino-me a escrever na varanda, ao fim da tarde, com o Sol a por-se no horizonte e uma bebida gelada ao lado. Como eu nem sequer tenho varanda, tudo isto é ilusão.

segunda-feira, 18 de abril de 2016

O caminho das pedras


Eram muitas, mas eram quase todas pequenas. Não havia nenhuma pedra grande o suficiente onde se pudesse sentar por uns instantes. E que bem que lhe saberia sentar-se e descansar.
Não parecia mas era inverno e a quantidade de roupa que vestiu por precaução agora atrapalhava bastante. A roupa colava-se ao corpo com a transpiração e dificultava os movimentos já de si difíceis porque as pedras resvalavam debaixo dos pés.
Mesmo sem assento resolveu parar. Virou-se para trás, puxou o boné para a testa para proteger melhor os olhos da luz intensa e ali ficou a contemplar o carreiro íngreme que subia pela encosta.
Tão pouca coisa mas tanto para ver. Apenas pedras, vegetação rasteira e o mar ao fundo. Poucas coisas que no seu conjunto formavam uma paisagem deslumbrante.
O pior era o resto do caminho que ainda faltava.
Baixou-se e pegou numa pedra. Olhou-a demoradamente por todos os lados e guardou-a na mochila. Era uma recordação, como habitualmente fazia.
Quanto tempo teria esta pedra? Uns milhões de anos certamente, como qualquer pedra que se preza. Talvez fosse do tempo do Jurássico. Do Jurássico não, pensou depois de reflectir, não parece haver por aqui pegadas de dinossauros, talvez do Cretáceo.
Riu-se sozinho, contente com a sua ignorância sobre pedras, voltou a colocar a mochila aos ombros, e reiniciou a subida.
Olhando o cimo da encosta fez uma pausa, soltou uma gargalhada e disse bem alto "as lá de cima são do Cretáceo Superior".