Escritos na varanda
Imagino-me a escrever na varanda, ao fim da tarde, com o Sol a por-se no horizonte e uma bebida gelada ao lado. Como eu nem sequer tenho varanda, tudo isto é ilusão.
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quarta-feira, 12 de outubro de 2016
A gripe
Os ursos hibernam quando chega o inverno. Eu hiberno quando chega a gripe. Agora, acordado e mal disposto, verifico que não escrevo no blog há quase uma semana, que continuo a não ter horta, que a minha cómoda está em pior estado do que estava antes de começarem as obras que ainda não acabaram, que já começou a estação das chuvas.
Bonito serviço. E eu que queria tê-la terminado antes da apresentação da peça de teatro. Sim, que a minha cómoda é pobrezinha mas vai participar numa peça de teatro. Quer dizer, vão falar dela lá. É quase a mesma coisa.
Como eu não acredito em milagres, resta-me acreditar que em cerca de um mês consigo pô-la em condições, não digo de uso, mas pelo menos de aparecer condignamente em frente da máquina fotográfica.
Com isto tudo vou continuar a levar nas orelhas nas aulas de guitarra. Ou bem que pego no serrote ou na palheta.
domingo, 28 de agosto de 2016
O urso
Olhava como se quisesse dizer alguma coisa,
mas que pode um urso dizer? E mesmo que pudesse, quem o iria entender?
Talvez outro urso, se o houvesse. Mas não
havia, a jaula pertencia-lhe por inteiro. E continuava a olhar, fitava cada par
de olhos que o olhava do outro lado das grades. E o que via, além da
superioridade inerente a quem se julgava superior, era o inconfessável alívio
cobarde de quem se encontrava do outro lado de um fosso com vários metros de
altura e ainda por cima com grades.
Os olhos saltavam de um para outro rosto, que
passavam indiferentes.
Às vezes cansava-se de andar de um lado
para o outro dentro da jaula, uma das poucas coisas que podia fazer, e então
deitava-se a um canto, com o focinho apoiado nas patas da frente, e ali ficava
a olhar sem ver nada.
Havia uma árvore, lembrava-se bem. Ficava
no caminho do rio e era um dos seus locais favoritos, até que se transformou no
seu pior pesadelo. Um dia ao passar por ela, sentiu uma picada forte e caiu
adormecido. Acordou com a trepidação e o barulho do camião que transportava a
sua jaula por uma estrada esburacada de terra batida.
Sabia que os ursos e as ursas não têm nomes,
mas para si ela era a Daisy, e era com ela que costumava ir à procura de mel.
Que lhe teria acontecido? Ainda pensava
nele? Também teria sido apanhada ou continuaria livre a procurar mel? Se calhar
com outro companheiro…
Dizem que os ursos não choram. Claro que
choram, só que ninguém sabe porque ninguém percebe nada de ursos. Às vezes de
medo do humano, o pior predador da terra, outras vezes de ódio.
Estava numa jaula, logo tinha razões para
ter medo. Não percebia é porque é que os humanos tinham medo, se até agora nunca
tinha feito mal nenhum. Talvez estivesse na altura de começar….
Pensando bem, quando conseguisse apanhar o
tratador, ia começar por lhe dar umas dentadas.
Por certo que viriam logo outros e armados
com espingardas. Disparariam de certeza. Talvez lhe tirassem a vida.
Esta vida? Pois que lha tirassem, não a
queria para nada.
domingo, 15 de novembro de 2015
O urso
Não passava de um animal. Irracional e inerte. Não raciocinava nem se mexia. Mas via as coisas à sua maneira. E custava-lhe a entender o mundo que o rodeava. Sobretudo quando esse mundo incluía humanos. Não percebia porque é que eram todos iguais.
Sabia distinguir todos os ursos que conhecia, os que habitavam na sua zona e com os quais se cruzava. Todos tinham a sua personalidade, o seu jeito próprio de fazer as coisas.
Mas os humanos faziam-lhe confusão. Tirando as aparências, a cor do pelo que lhes cobria a cabeça, a cor e o feitio das peles de outros animas com que cobriam o corpo e a que chamavam roupas, tudo o resto, o essencial, era igual em todos: todos eram superiores aos restantes seres, inclusivamente entre eles alguns eram mais superiores do que outros, todos eram donos de alguma coisa, todos viviam dentro de muros fechados à chave para se guardarem a si e às suas coisas.
Que vida estúpida devia ser a dos humanos. Não trocaria nunca a sua vida de peluche por uma dessas.
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