Escritos na varanda

Imagino-me a escrever na varanda, ao fim da tarde, com o Sol a por-se no horizonte e uma bebida gelada ao lado. Como eu nem sequer tenho varanda, tudo isto é ilusão.

domingo, 1 de setembro de 2013

A porta

                               Convento de Cristo - Tomar, 13 Julho 2008

O corredor era comprido e tinha ao fundo uma porta, sempre fechada.
Nunca abras aquela porta, senão...
O próprio corredor não era sitio que se pudesse frequentar muitas vezes em carne e osso, era apenas palco da imaginação de quem procurava um espaço amplo para desenvolver as actividades próprias da sua idade.
As referencias à porta sempre fechada eram invariavelmente acompanhadas de reticências. E que reticencias.
Já conhecia todos os tons em que as reticencias podiam ser interpretadas. Havia as maiores, as menores, com sustenido, com bemol...
Não faças isso, senão...
Não digas isso, senão...
Come tudo, senão...
Não vás para ali, senão...
Vai estudar, senão...
Não vistas isso, senão...
Mas em relação à famosa porta, eram sempre produzidas em tom de sétima aumentada. E em registo fortíssimo.
A seguir às reticencias vinha sempre, se fosse caso disso, o ponto de exclamação.
As reticencias podiam ser contornadas, mas ao ponto de exclamação não se conseguia escapar.
E por isso a porta manteve-se estanque aos olhares indiscretos até hoje. Porque mesmo com reticencias, se aparecesse o ponto de exclamação seria o último. Estava decidido.
A porta, aquela porta, aquela porta que estava sempre fechada, foi aberta. Apenas para se ficar a saber que não conduzia a lado nenhum.
Que diferença é que isso faz agora?