Escritos na varanda

Imagino-me a escrever na varanda, ao fim da tarde, com o Sol a por-se no horizonte e uma bebida gelada ao lado. Como eu nem sequer tenho varanda, tudo isto é ilusão.
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sexta-feira, 25 de março de 2016

Banco dobrável


Agora até poderia ir à pesca, mas os peixes não me fizeram mal nenhum...



Uma grande parte do banco foi feita na bancada da cozinha e no chão. Assim é difícil que as coisas fiquem direitas, alinhadas e sem folgas.
Tenho mesmo que arranjar uma bancada de trabalho.
O protótipo está um bocado desarticulado porque ainda faltam dois pedaços de madeira, duas travessas para unir as pernas, mas no fim de semana não me apetece ir para a confusão da loja comprar mais uma ripa.
O pior de tudo foi terem-me perguntado se leva dobradiças. Isso é um verdadeiro insulto para um carpinteiro.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

O velho banco


O velho banco do contador de histórias lamenta a morte iminente da velha cadeira onde se sentava quem as ouvia.
Queria ir lá, chegar perto dela e endireita-la antes que caia para nunca mais se levantar.
Mas, triste destino, mal se aguenta nos seus quatro pés, naquele chão que já foi direito.


sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

O banqueiro bom


Fui bancário durante mais de vinte e cinco anos. Não guardo grandes recordações desse tempo, excepto algumas situações pontuais e alguns poucos bons amigos que conservo ainda passados cerca de nove anos da passagem à reforma antecipada.
Naquilo que mais gostei de fazer na vida, o atletismo, o mérito mede-se com um cronómetro ou com uma fita métrica. No banco mede-se pelas palmadinhas nas costas.
Na maioria dos casos trata-se de gente demasiado importante para que eu me importe com eles. Vive-se de pareceres e de aparências. De ilusões e de desilusões. De valores monetários na coluna dos créditos e de valores morais na coluna dos débitos.

Ainda bem que saí de lá. Pude assim evoluir. De bancário passei a banqueiro. Mas um banqueiro bom, um banqueiro que faz bancos. Não como a corja que constantemente nos entra pelas televisões dentro, e que para o bem de milhões de pessoas, haviam de nem sequer ter nascido.


quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Elevadores e companhia

Eu esta noite tive um pesadelo
Sonhei que era apenas um processo
Pousado num armário com desvelo
Mas preso com agrafos em excesso.

Eu hoje quase fiquei sem cabelo
Quando vi como era o novo acesso.
Ascensor? Pois agora já nem vê-lo.
O degrau está de novo de regresso.

Já não tenho mais vontade de subir
Degraus que não levam a nenhum lado.
A vontade que eu tenho é de fugir.

Só não vou por causa do ordenado,
E a reforma que ainda está pra vir.
Por isso vou suportar este fado.

Um dia, no princípio do longínquo ano de 2005, os colaboradores do banco X na avenida Y na cidade Z chegaram ao local de colaboração e encontraram o elevador avariado.

O banco X é um banco da nossa praça. Não refino o nome porque acho que nem a miserável publicidade neste miserável texto que quase ninguém lê eles merecem.

O local de colaboração está para os colaboradores como o local de trabalho está para os trabalhadores. É um local onde se passa uma grande parte dos dias úteis. Sim, porque há dias inúteis.
Conheço alguns que mesmo em dia inúteis iam até lá. Mas esses não eram colaboradores, eram colaboracionistas. E não andavam de elevador, andavam de Renault Megane ou Ford Mondeo, mas tinham a ilusão de que um dia iriam andar de Audi ou BMW.

Para que não pensem mal do banco X devo referir que sempre teve muita consideração pelos seus empreg... , quero dizer, colaboradores. Tomara que todas as empresas fossem assim. Este banco promoveu todos os seus funcionários. Todinhos, sem excepção. Foram todos promovidos de trabalhadores a colaboradores.
Está bem que não ganharam nada com essa promoção (muito pelo contrário), mas também o que é que isso interessa? É preciso não esquecer que estamos a falar de um meio em que se vive das aparências.

Bem, voltando ao elevador, a avaria estendeu-se por uma semana. Uma contrariedade apenas, no meio de tantas outras no dia a dia. Pressa em arranjá-lo para quê? Os camelos, ou melhor, os colaboradores estavam lá para subir (e já agora para descer também, caso não quisessem lá passar a noite).

Este episódio passou-se ao fim de longos 25 anos de trabalho, ou colaboração, já nem sei bem, em que o espectro das reformas antecipadas pairava no horizonte de muitos dos colaboradores. Para conseguir vir-me embora com a sanidade mental intacta, tinha que me fazer passar por maluco. Parece contradição. Mas não é.

As musas da insanidade ditaram-me o soneto que encima este texto. E eu aproveitei a oportunidade para mostrar mais uma vez o quão farto estava daqueles anos todos. Para isso imprimi-o numa folha com letra tamanho 14 para se ver bem e colei-o na parte lateral do meu monitor, substituindo uma outra folha que dizia: “Você disse urgente? AH AH AH”