Escritos na varanda

Imagino-me a escrever na varanda, ao fim da tarde, com o Sol a por-se no horizonte e uma bebida gelada ao lado. Como eu nem sequer tenho varanda, tudo isto é ilusão.
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quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Debaixo do mesmo tecto


Era a hora dos morcegos. O dia tinha acabado há pouco tempo, o que lhes permitiu saírem das suas tocas. Com o passar das horas acalmam-se, mas nestes primeiros instantes esvoaçavam em todas as direcções como se não houvesse amanhã.
Não gostava de morcegos. Irritava-o senti-los a voar junto à sua cabeça, muitas vezes sentia as asas a roçarem-lhe o cabelo. Havia no entanto um período do dia em que tinham de conviver debaixo do mesmo tecto.
Era a hora em que esperava pela Joana que saia do turno no supermercado. Mesmo em frente, do outro lado da rua havia um pequeno jardim e quando não chovia era aí que gostava de esperar, sentado num dos bancos de madeira gastos pelo passar dos anos.
Mesmo apesar dos morcegos

terça-feira, 19 de abril de 2016

Samouco


Uma noite mal dormida com a pressa de não acordar tarde.
Uma viagem feita no escuro às escuras, até um ponto desconhecido.
Uma longa espera pelo nascer do Sol.
Uma frustrante espera por milhares de aves que nessa madrugada não voaram.

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

A mochila


Não sabia o que esperava, mas no entanto esperava. Talvez fosse burrice, teimosia ou ausência de outra coisa qualquer para fazer, sabe-se lá. O que é facto é que esperava apesar de já ter repetido mil vezes a si próprio que não o iria fazer.
Ainda agora, em que chegou a altura de voltar a pegar na mochila, a secreta esperança continuava lá, a espreitar nos confins do pensamento.

sábado, 13 de dezembro de 2014

A espera solitária


O areal imenso parece minúsculo comparado com a imensidão do mar. Alheia às disputas quantificativas, a gaivota divide o seu tempo entre um e o outro. São dois lugares onde pode estar, logo são iguais na sua diferença.
E espera.
A espera faz parte da existência. Por entre os detritos espalhados na areia ou cercada pela espumas das ondas é durante a espera que observa o mundo que a rodeia e escolhe o próximo lugar onde as asas a vão levar.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Talvez te espere


Olhou mais uma vez para o relógio, um pouco a medo, temendo que os ponteiros, por via da pilha nova que colocara na véspera tivessem desatado a corre atrás um do outro cheios de energia e chegassem primeiro que ele à hora marcada.
Mas não, verificou suspirando de alívio, ainda faltavam vários minutos para a hora marcada e os ponteiros moviam-se com a mesma lentidão de sempre. Moviam-se à velocidade de sessenta eternidades por hora. Cada minuto que esperava por ela parecia-lhe uma eternidade.
À hora marcada, chegou ao local marcado. Ao local marcado por si, onde resolvera esperá-la, desde que resolvera esperá-la. O banco de jardim lá estava à sua espera. Era a única coisa que o esperava.
Sentou-se e esperou.
À hora habitual ela apareceu ao fundo do caminho, caminhando em passos cadenciados e seguros, passos de quem sabe para onde vai.
À medida que se ia aproximando a sua figura ia aumentando de tamanho, deixando de ser uma figura minúscula do tamanho de uma formiga, até atingir a altura da mulher que conhecera dez anos antes no momento em que passava em frente do banco onde estava sentado, diminuindo depois de tamanho à medida que se afastava pelo lado oposto.
Tal como todos os dias, seguia-a com o olhar, desde que aparecia, pelo seu lado direito, até que desaparecia ao fundo do caminho pela sua esquerda.
Tal como todos os dias, o olhar dela mantinha-se sempre fixo em algum lugar, no infinito, à sua frente.
Só então, depois de ela desaparecer de vista se levanta, virava à esquerda também e iniciava o caminho de regresso a casa.
Mas neste dia aconteceu algo de diferente. Quando passava em frente do banco onde estava sentado, parou, deus dois passos como que coxeando na direcção do banco de jardim e sentou-se na outra extremidade. Baixou-se, tirou um sapato, virou-o ao contrário e sacudiu-o fazendo sair uma pedra que lá tinha entrado. Calçou-o novamente, levantou-se e continuou o seu caminho de todos os dias.
Ao fim de alguns minutos, que pareceram eternidades, desapareceu por fim na última curva do caminho.
Levantou-se então, virou também à esquerda e antes de começar o caminho de regresso pensou “talvez te espere amanhã”.