Escritos na varanda

Imagino-me a escrever na varanda, ao fim da tarde, com o Sol a por-se no horizonte e uma bebida gelada ao lado. Como eu nem sequer tenho varanda, tudo isto é ilusão.

sábado, 22 de abril de 2017

Miradouro


Dentro do livro havia um bilhete, do tempo em que os transportes públicos tinham bilhetes. Fechou o livro e concentrou-se no bilhete. Achou curioso que ainda não tivesse reparado nele, porque já andava a ler aquele livro há perto de três semanas.
Era um bilhete da Carris, cor de rosa e com o preço de 1$00. Quantos anos teria? Não fazia ideia nenhuma. Talvez em casa, com a internet conseguisse descobrir em que época a Carris tivera bilhetes com aquele preço. Virou-o e a curiosidade aumentou. Escrito a lápis estava a frase "não vás lá hoje - RS".
Esqueceu o livro, que pousou no banco ao seu lado. Ainda não era hoje que o ia acabar de ler. Esqueceu a paisagem. Encostou-se para trás, esticou as pernas, e ali ficou com o olhar fixo no verde à sua frente, a pensar no bilhete, em quem o escreveu, a quem se destinava, no significado da frase.
Sentia-se o Inspector Colombo.