Escritos na varanda
Imagino-me a escrever na varanda, ao fim da tarde, com o Sol a por-se no horizonte e uma bebida gelada ao lado. Como eu nem sequer tenho varanda, tudo isto é ilusão.
sexta-feira, 8 de agosto de 2014
O mundo aos rectângulos
Também serve.
Em vez de verem o mundo aos quadrados, podia ser aos rectângulos.
O que era mesmo preciso era que o bando de governantes, ladrões, assassinos que mandam no mundo fossem todos postos numa jaula.
quinta-feira, 7 de agosto de 2014
Terra, temos um problema
- Alô Terra, temos um problema.
- Aqui Terra, qual é o problema?
- Não queremos voltar!
- Como?
- Não é interferência estática, é isso mesmo que ouviram: não queremos voltar!
- Mas... vocês estão loucos?
- Loucos nós? E vocês, que falam de algo que não existe a que chamam deus, governam-se à custa de milhões de desgraçados em nome de algo que não existe a que chamam deus, matam em nome de algo que não existe a que chamam deus? Vocês são normais?
- Se não voltarem morrem aí em cima...
- Se voltarmos morremos aí em baixo. Sabemos perfeitamente que todos morremos. Vocês é que se esquecem que também morrem. E deixem-nos dizer que se morre melhor aqui em cima do que às mãos das vossas ditaduras.
terça-feira, 5 de agosto de 2014
segunda-feira, 4 de agosto de 2014
Um rio de águas pardacentas
Um rio de águas pardacentas, que reflectem
a cor pardacenta do céu, corre entre margens pardacentas habitadas por gente
pardacenta que tenta viver a sua pardacenta vida o menos pardacentemente possível.
Os ladrões de aguarelas roubaram as cores
todas, menos o preto e o branco. Por isso sonhamos a preto e branco.
Ah, mas sonhamos, que isso eles não roubam.
Nem que se pintem todos.
domingo, 3 de agosto de 2014
No país das árvores anãs
No país das árvores anãs as pessoas são gigantes.
No país das árvores anãs não são só os tamanhos das árvores e das pessoas que estão invertidos, todos os valores estão invertidos.
Sobretudo o valor da vida e da morte.
Um dia virá, espero eu, que os assassinos tenham todos o mesmo destino.
sábado, 2 de agosto de 2014
Peixeirada
Lisboa, Oceanário, 2 Agosto 2014
Não se sabe bem o que terá acontecido
naquela distante madrugada, quase manhã em que, como habitualmente, dormia
ainda embalado pelas ondas que naquela altura do ano corriam planas pelo vasto
oceano, sopradas pelo vento de sudoeste.
Sonhava, e no sonho imaginava-se a subir ao
degrau mais alto do pódio e a receber a medalha de ouro pela vitória na
maratona das Atlantiadas de 1996. Sim, era um verdadeiro carapau de corrida.
De repente, um barulho ensurdecedor e uma
agitação tremenda das águas quase o fizeram acordar. Quase, porque nem teve
tempo para isso, quando ia a abrir os olhos, uma pancada na cabeça pô-lo
inconsciente. Não se lembrava de mais nada.
Quando finalmente acordou, o primeiro
pensamento que teve foi que tinha morrido, mas depressa se apercebeu que não. Continuava
dentro de água. Só que…
Estava num sitio diferente e não sabia como
tinha ido ali parar. Tudo era diferente. A água tinha um gosto horrível, havia
peixes com aspectos grotescos como nunca tinha visto, e falavam uma língua que
não conhecia, só ao fim de muito tempo conseguiu encontrar outro carapau, e
esse também não sabia porque estava ali.
Não havia correntes, não havia ondas, só
peixes estranhos e ervas que pareciam de plástico.
Até que o coração parou de bater e um grito
lhe escapou do fundo das guelras: ao contornar umas rochas viu parado à sua
frente o ser mais horroroso que já tinha visto, um ser humano que do outro lado
do vidro olhava embasbacado o oceanário.
sexta-feira, 1 de agosto de 2014
O caixote aqui presente
Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos saltos e aos pinotes,
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas!
Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza...
A um morto nada se recusa,
Eu quero por força ir de burro.
(Mário de Sá-Carneiro)
O caixote aqui presente em breve vai receber um morto que não queria morrer.
Quase ninguém está contente com a sua sorte.
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