Escritos na varanda

Imagino-me a escrever na varanda, ao fim da tarde, com o Sol a por-se no horizonte e uma bebida gelada ao lado. Como eu nem sequer tenho varanda, tudo isto é ilusão.

domingo, 9 de novembro de 2014

A morte do artista


A morte, essa parte integrante da vida, está sempre presente desde o nascimento. Pertence-lhe. Como tal, o proprietário da vida, é por inerência, o proprietário da morte.
Não existe vida depois da morte, tal como não existe morte antes da vida. A única coisa que a morte faz é transformar vivos em mortos. Não transforma pessoas que não prestam em pessoas boas. São por isso completamente despropositados os discursos e elogios aquando de algumas mortes.
Mais do que a dignidade da morte, interessa sobremaneira a dignidade da vida. É a vida que tem que ser vivida, não a morte, e é em vida que se podem fazer mudanças que contribuam para o progresso, o desenvolvimento, o bem estar, ou seja, a dignidade.
Num mundo que se rege pelas aparências, a morte não foge à regra. Desde logo na forma de vestir o morto. Os estereótipos da vida prolongam-se pela morte fora. Mas sobretudo na forma como se gasta dinheiro com a morte. As agências funerárias são autênticas agências de viagens. E no fundo a viagem é tão curta, apenas até ao quintal que existe em quase todas as localidades e a que chamam cemitério.
As pessoas morrem acima das suas possibilidades. Se há os que vão a funerais apenas para serem vistos, há os que pagam funerais apenas para impressionar quem lá vai.
As aparências na morte reflectem as aparências com que se tentou mistificar a vida.