Escritos na varanda

Imagino-me a escrever na varanda, ao fim da tarde, com o Sol a por-se no horizonte e uma bebida gelada ao lado. Como eu nem sequer tenho varanda, tudo isto é ilusão.

sábado, 14 de janeiro de 2017

Memórias de uma praia deserta


Levar as feridas a passear à praia tem um efeito dolorosamente benéfico. O contacto com a água do mar arde, e muito, mas depois saram mais depressa.
O tratamento não é subsidiado. Não há nenhum médico que o receite nem nenhum sistema de saúde que o comparticipe.
As farmácias também não vendem frasquinhos com água do mar.

Ali estava uma toalha. E por cima tinha um corpo a apanhar banhos de Sol. Um corpo que falava e ria, e beijava e abraçava. Depois deu-se a erosão, e a praia ficou vazia. Primeiro foram umas ondas pequeninas, que a pouco e pouco foram crescendo. Por fim uma maré imensa de desprezo e raiva veio das profundezas do oceano e levou tudo à sua frente, incluindo o corpo sobre a toalha. Nem uma mensagem de despedida ficou escrita na areia. Nada.
Hoje trouxe as minhas feridas até à praia. Ardeu muito, Por pouco até que a água do mar não me lavava as memórias também.
A erosão muda quase tudo. Mudou a praia, Mudou-me a mim. Só as feridas permanecem. Mas agora, com o tratamento estão a caminho de ficar curadas mais rapidamente.