Escritos na varanda
Imagino-me a escrever na varanda, ao fim da tarde, com o Sol a por-se no horizonte e uma bebida gelada ao lado. Como eu nem sequer tenho varanda, tudo isto é ilusão.
quinta-feira, 31 de julho de 2014
Magenta
Não existe a hora da escrita. Escreve-se em qualquer altura, desde que se queira, se possa, se consiga.
Acontece que eu consigo, posso, e quero escrever à noite, e é o que faço habitualmente, mas hoje à noite vou estar ocupado, logo não há escrita.
Mais logo, às 22h estarei na Sociedade de Instrução Guilherme Cossoul para assistir à actuação do trio Magenta.
quarta-feira, 30 de julho de 2014
O beijo
Ao fundo uma margem, a outra; há sempre uma "outra", por oposição à "uma", à de "cá"; uma margem que os criminosos quiseram encher de contentores.
Ao meio um rio de águas azuis e sujas, que as "análises" oficiais garantem estar limpas. As taínhas não têm voz e os submarinos não se queixam, querem lá saber da água, querem é contrapartidas.
Em primeiro plano, na margem de "cá", uma "praia" de lodo, rochas e detritos.
Passeável na maré baixa, por quem tem em alta a vontade de ser feliz, indiferente às circunstancias, ao envolvimento, aos estranhos olhares.
O cais já não é cais, as colinas já não são sete, apenas a vontade, esta ou outra, se mantém inalterável ao longo dos tempos.
terça-feira, 29 de julho de 2014
Epiphone Les Paul II
Continuação da desilusão anterior.
A posição do braço em relação ao corpo fica diferente da guitarra acústica, e tenho dificuldade em acertar nas cordas correctamente com os dedos da mão esquerda.
Nem vale a pena mencionar o facto de o uso da palheta estar a começar agora a partir do zero.
O pior de tudo é que o estudo da guitarra acústica estava a correr bem e agora, se estiver uma hora a tocar na eléctrica, quando passo para a acústica, os dedos não acertam nas cordas .-(
Já não se fiz bem em comprá-la...
Tirando esta parte negativa que no fundo tem a ver apenas comigo e com as minhas dificuldades/limitações em usar a guitarra, devo referir como nota positiva que o material (guitarra e amplificador) me parece razoável.
A minha experiência anterior com guitarras eléctricas resumia-se ao uso durante dez minutos de uma guitarra de supermercado, e devo confessar que esta, apesar de barata, não tem nada a ver com a outra.
segunda-feira, 28 de julho de 2014
Epiphone Les Paul
Primeira impressão: desilusão.
O peso.
Faz mesmo muita diferença no peso para uma guitarra acústica. Depois, sem usar ainda a correia, com a guitarra apenas assente na perna, foi difícil encontrar uma posição confortável.
Amanhã logo se vê o resto, ou melhor, mais um bocadinho, isto tem de ir aos poucos.
domingo, 27 de julho de 2014
À sombra da bananeira
Uma espreguiçadeira.
Uma cerveja.
Uma guitarra.
E uma bananeira no sentido figurado, que a
vida toda é uma figuração completa.
De realmente real temos a sombra, o que já
não é mau, dado o calor que estava.
Daqui resultaram algumas improvisações nas
escalas de Dó maior, de Sol maior e de Lá maior de blues.
Coitados dos vizinhos.
sábado, 26 de julho de 2014
Estou com a telha
Hoje estou com a telha.
Eu aqui à sombra e ela ali, à torreira do sol, a olhar para mim.
Hoje estou com a telha e não me arrependo.
Ao longe, quase no limiar do infinito, uns farrapos brancos de nuvens dispersas arrastam-se ao sabor do vento, conferindo movimento a uma paisagem quase estática.
Hoje estou com a telha, debaixo do mesmo sol.
sexta-feira, 25 de julho de 2014
quinta-feira, 24 de julho de 2014
quarta-feira, 23 de julho de 2014
terça-feira, 22 de julho de 2014
Venho em sentido contrário
Venho
em sentido contrário
Navego
contra a maré
Muitos
chamam-me otário
Mas
eu venho cheio de fé.
Tenho
esperança no futuro
Confiança
no presente
Sei
que vou saltar o muro
Que
me puseram à frente.
As
partidas do destino
Não
chegam p’ra me assustar
Já
cá estou desde menino
Já
sei como as enfrentar.
E
por mais que seja duro
Suportar
o vento norte
Às
vezes mesmo no escuro
Não
tenho medo da morte.
Sei
muito bem o que quero
E
o que vou alcançar
Se
não for hoje eu espero
Sentado
no meu lugar.
A
pressa é inimiga
De
fazer coisa bem feita
Ter
mais olhos que barriga
Às
vezes dá em desfeita.
(Do livro "A nascente do rio das palavras")
segunda-feira, 21 de julho de 2014
A encruzilhada
De repente era como se em frente não
existisse nada. Havia que virar à esquerda ou à direita.
Sempre ouvira dizer que “em frente é que é
o caminho”, mas agora essa frase tida como uma verdade absoluta, tornara-se
impossível de realizar.
Como se houvesse verdades absolutas.
domingo, 20 de julho de 2014
Capital Europeia de Músicos de Rua
Um músico que toca na rua vale tanto como
um músico que toca dentro de casa.
Por isso, e porque gosto de música e não de
status, fui ver o espectáculo dos músicos de rua na Praça do Comércio.
Mais fotos podem ser vistas neste link:
sábado, 19 de julho de 2014
Proibido
Proibido, proibido, proibido.
Olha-se e é só o que se vê à nossa volta.
Proíbem-nos de tudo.
Proíbem-nos de viver.
E entretanto a morte pode passar
livremente.
Os assassinos podem passar livremente.
Os ladrões dos bancos podem passar
livremente.
quinta-feira, 17 de julho de 2014
O bico
A avestruz tem o olho maior que o seu cérebro. Por outro lado, mantêm o bico fechado, falam pouco.
Em contrapartida conheço gente que nem cérebro tem, e talvez por isso mesmo, apresentam uma disfunção ao nível da goela, que a faz estar permanentemente aberta, qual cano de esgoto, por onde saem todo o tipo de verbalizações sobre o que julgam "saber", que vai desde cabeças de alfinete até naves espaciais, ou seja, tudo e mais alguma coisa.
quarta-feira, 16 de julho de 2014
Terra Utópica
A Terra Utópica existe. Tem um restaurante,
uma taberna e gente boa lá dentro.
Neste caso particular, esta fica localizada
em Mértola.
O pior é quando saímos para o mundo real.
terça-feira, 15 de julho de 2014
A espera
Era um dia de inverno, frio de rachar. Então, vestiu um sobretudo e cobriu-se com três ou quatro cobertores de lã. Assim agasalhado sentou-se à espera. Ouvira dizer que a morte saía à rua em dias assim.
segunda-feira, 14 de julho de 2014
Com traste
O laranja quente do céu contrasta como negro
frio do chão.
O laranja do céu de verão contrasta com o
negro do chão do inf(v)erno.
E foram cinco anos dele. Na altura era com
traste, eu sei, mas era o meu traste. E de estimação.
Agora é sem traste.
domingo, 13 de julho de 2014
Verão II
Porque ainda é verão, e por ser verão não consigo ter tempo para escrever mais nada nem sequer pensar sobre o que escrever.
sábado, 12 de julho de 2014
sexta-feira, 11 de julho de 2014
Zona Franca dos Anjos
O criminoso volta sempre ao local do crime, diz um ditado antigo.
Será verdade?
Não posso crer.
Será verdade?
Não posso crer.
quinta-feira, 10 de julho de 2014
O candeeiro
Da serra, já muitos escreveram, coisas
boas, coisas más, e assim assim. Sobre a manhã, a tarde, e a noite na serra. Em
prosa ou em rimas refinadas.
Eu, vou-me limitar a escrever sobre um
candeeiro. Aquele que está ali nesta foto que parece da serra de Sintra ao
anoitecer, mas que na verdade é a foto de um candeeiro.
Aquele ali, que está aceso. É verdade que à
data da ocorrência dos factos ele estava apagado. Mas não deixa de ser um candeeiro
na mesma, além de que estava apagado apenas por força das circunstâncias,
porque era de dia.
Foi ali, à luz daquele candeeiro que na
altura estava apagado, que eu a vi pela primeira vez. Confesso que fiquei até
ofuscado. Tinha o sol pela frente, não conseguia distinguir bem as coisas.
Achei-a bela. O amor só por si já é cego. O
amor encadeado pelo sol é bem pior. O amor destilado por uma cabeça em brasa
por estar à meia hora à torreira do sol à espera de um autocarro atrasado toma
proporções inimagináveis.
O atraso serviu de mote para o inicio da conversa,
que versou sobre o autocarro propriamente dito, sobre o sol, sobre tudo, sobre
nada.
Quando a viatura apareceu, embarcámos
juntos para uma viagem que deveria demorar no máximo quinze minutos.
Hoje, passados tantos anos pergunto-me
porque raio é que aquela paragem de autocarro não tem um telheiro como tantas
outras. Em vez disso, tem apenas uma placa presa ao poste do candeeiro.
quarta-feira, 9 de julho de 2014
terça-feira, 8 de julho de 2014
Na escuridão do dia
Há um longo caminho a percorrer. Nas
entranhas da terra, a luz do dia chega entrecortada nos seus diversos
cambiantes e sem uma parte muito importante da sua cor: o calor.
Lá, onde as raízes constroem as suas casas,
onde as minhocas se banham na lama do inverno rigoroso, onde as toupeiras
percorrem túneis escavados à força de patas vigorosas, um ser estranho e fora
do contexto, faz do ventre da terra a sua morada.
Diz que é temporário e passageiro. Diz que
é um meio. De transporte. Não passa porém de um prenúncio do fim. Quando por
fim repousar encaixotado, sob sete palmos de pedras e torrões de terra.
segunda-feira, 7 de julho de 2014
A solução
Ao ver tanta água e ao sentir-lhe o sal dissolvido não posso deixar de me lembrar da velha anedota da diferença entre solução e dissolução:
"Dissolução é colocar um político dentro de ácido até que se dissolva; solução é colocá-los todos."
domingo, 6 de julho de 2014
A Ponte do Rio Que Vai
O rio que vai da Serra de Sintra até Santo
Amaro de Oeiras chama-se Ribeira da Laje.
Não é portanto um rio na verdadeira acepção
da palavra, apenas uma ribeira. E na localidade de Mem Martins, uma das várias
que atravessa durante o seu trajecto, é atravessada por uma laje de cimento,
que em conjunto com um conjunto de grades de ferro nas suas partes laterais
forma uma ponte, muito útil para o atravessamento de peões e até mesmo de um
ou outro velocípede.
Já por ali passei milhares de vezes. Ainda
sou do tempo em que não existia ponte, apenas uma fila de pedras assentes no
leito da ribeira que permitiam atravessá-la sem molhar aos pés.
Como no tempo das pedras não tinha máquina
fotográfica e agora que tenho não é possível fotografar com retroactividade,
coloco aqui apenas uma foto da ponte tal como ela se encontra actualmente.
Ao escrever este texto dizia-me o OpenOffice que “lage” está mal escrita. E eu que sempre a vi escrita assim, mesmo
na imprensa quando por vezes em épocas de inverno é palco de inundações.
Mas apesar das dúvidas lá fui consultar as
Ciberdúvidas da língua portuguesa. E não é que os dicionários indicam a forma
escrita com “j”?
Tive portanto que corrigir o texto. Mais
uma coisa que aprendi hoje.
sábado, 5 de julho de 2014
A Senhora da Fonte
Viviane, era o nome que ela lhe tinha dito.
Curioso, pensou, conheceram-se num supermercado, no corredor das águas, meteram
conversa a caminho da caixa e acabaram combinando encontrar-se junto à fonte.
Não havia nada que fazer junto à fonte,
excepto esperar. E em pé, pois bancos não havia e a pedra que circundava a
fonte estava molhada. Pôs-se então a caminhar em círculos, pequenos a
princípio, aumentando o seu tamanho à medida que o tempo passava, até ter
percorrido várias vezes o terreiro onde estava implantada a fonte, sempre com
as mãos atrás das costas.
Já as sombras da noite iam tomando conta de
cada pequeno recanto à sua volta, substituindo sem apelo a fosca claridade do
fim do dia, e ainda Artur por ali andava às voltas com os seus passos compassados
e os seus pensamentos descompassados.
Até que, a meio de uma das suas voltas, que
estava destinada a ser a última, parou, olhou longamente para a fonte e encaminhou
os passos para a saída.
Continuava com as mãos atrás das costas mas
agora caminhava cabisbaixo. A história nunca se repete, ocorreu-lhe.
De facto, Viviane, a outra, a Senhora do
Lago, entregou a Artur, o outro, o Rei, uma espada.
Viviane, esta que em pensamentos apelidara
de Senhora da Fonte, cravou-lhe a ele Artur, o crédulo, um punhal na
autoconfiança.
A história, de facto, nunca se repete.
quinta-feira, 3 de julho de 2014
O candeeiro apagado
À luz de um candeeiro apagado consegue-se fazer muita coisa. Consegue-se fazer quase tudo. Não serve de desculpa.
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