Escritos na varanda

Imagino-me a escrever na varanda, ao fim da tarde, com o Sol a por-se no horizonte e uma bebida gelada ao lado. Como eu nem sequer tenho varanda, tudo isto é ilusão.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

O farol

                          Guincho, 20 Janeiro 2014

A escuridão é grande e a luz é pequena. Já estava perdido anteriormente, e continuo perdido.
Vi ao longe uma praia e dirigi-me para lá. À distância parecia uma praia mas agora não tenho a certeza, porque quanto mais me aproximo, mais ela se afasta.
Talvez sejam areias movediças. Ou melhor, areias afastadiças.
Se for verdade, talvez então seja melhor não me aproximar, pensei eu, e preparei-me para virar a proa para bombordo.
De repente, fez-se luz. Não a do farol, outra, e ocorreu-me o seguinte pensamento: “Não quero aproximar-me da suposta praia porquê? Por medo de me perder lá? Mas, perdido já eu estou, que diferença faz?”.
Baloiçando sobre as ondas, ali fiquei, naquela indecisão, ao sabor da maré que me empurrava para a praia, que ao pressentir a minha aproximação, se afastava.
Isto da maré é apenas uma desculpa, para não dar a entender que era eu que continuava a querer aproximar-me.
O mesmo tipo de desculpa que usarei quando, cansado de tentar, desistir, dizendo então que não foi por falta de vontade que não consegui, a maré é que me empurrou para outro lado.
Deve ser a isto que chamam marés vivas.
Marés mortas são outra coisa, são aquelas que empurram quem nem sequer tenta.