Escritos na varanda

Imagino-me a escrever na varanda, ao fim da tarde, com o Sol a por-se no horizonte e uma bebida gelada ao lado. Como eu nem sequer tenho varanda, tudo isto é ilusão.

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

A máquina do tempo

                                      Senhora do Ó, 9 Novembro 2013 (foto by Rafaela)

A máquina do tempo avariou, e em vez de me levar a toda a velocidade em direcção ao futuro, transportou-me, sem aviso, para o passado.
A máquina está na oficina desde segunda feira. Um amortecedor, mais uns triângulos da suspensão, mais uns foles, mais uns filtros, mais um pneu…
Nada que não se arranje. E até tenho sorte, se em vez de triângulos fossem quadrados, tinham mais lados e seriam com certeza mais caros.
O pior é o motor do limpa vidros traseiro. São muitos euros, por isso há que arranjar um usado num sucateiro. Desde segunda feira até sexta que estive à espera de transporte para as sucatas na Portela de Sacavém.
Hoje a espera acabou-se e meti pés ao caminho. Sozinho como habitualmente.
A última vez que lá fui deve ter sido há cerca de vinte anos, hoje não era capaz de dar com aquilo novamente, de modo que a partir da estação do Oriente, fui de táxi. E regressei a pé.
Pela altura do sol, devia ser hora de almoço, por isso fui olhando em volta mas só via prédios de habitação, nem um único restaurante.
Até que deparo com a entrada de um centro comercial. Entrei.
Uma vez lá dentro, comecei a andar, a andar, a andar, até que me apercebi que estava a andar em círculos.
E então reavivou-se uma memória já há muito tempo esquecida. Sim, há muito, muito tempo eu já ali tinha estado.
Que vida é feita de círculos já eu sabia, o que não esperava é que andasse tão devagar. Se andasse um bocadinho mais rápida talvez a força centrífuga atirasse comigo borda fora. Assim, ainda aqui estou.