Escritos na varanda

Imagino-me a escrever na varanda, ao fim da tarde, com o Sol a por-se no horizonte e uma bebida gelada ao lado. Como eu nem sequer tenho varanda, tudo isto é ilusão.

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

A desarrumação possível


O tempo não pára, e eu também não. O problema é que o tempo anda mais depressa do que eu.
E no espaço de algumas poucas semanas surgiram quase do nada várias coisas para fazer, que não cabem dentro do tempo dispónível.

Trouxe várias caixas de casa dos meus pais. E tenho de lhes fazer alguma coisa rapidamente.
Encontrei perdido no fundo de uma arrecadação um caixote com o meu material de atletismo. Vou dar a algum clube ou treinador que dele necessite, mas primeiro tenho de o tirar da chuva.
Sim, há tanto tempo que a chuva fazia falta, e agora que não me faz falta nenhuma é que aparece.
Comecei por tentar tirar a ferrugem a algumas peças com vinagre, mas parece-me que isso é treta, não vejo resultados nenhuns. E o resto continua à chuva, não posso por as coisas assim como estão dentro de casa.


E por falar em chuva, o meu barracão / oficina mete água. Tenho de arranjar tempo para tentar vedar a zona da porta, aquilo tem muitas folgas e não pode ficar assim.
Desgraçadamente, nem a chuva pára, nem eu consigo arranjar tempo.
É que para piorar ainda mais, lá dentro tem várias caixas de cartão com livros e discos de vinil. Não podem ir para dentro de casa porque têm bichos do papel. Tenho de ver tudo um a um primeiro.
Os discos que vi até agora estão todos em condições mas os livros não. Já foram vários sacos para o lixo. com livros roídos pelo bicho do papel.


Com muita, muita sorte, os livros de desporto em que peguei até agora estavam todos bons.
Mas ainda tenho algumas caixas para ver. Libertando esse espaço, posso usá-lo temporariamente para colocar dentro do barracão algumas das coisas que estão na rua.

E por falar em rua, a horta não dá descanso. As alfaces já não cabiam dentro das garrafas de plástico, e por isso tirei-as. Mas agora tenho de colocar rapidamente uma rede por cima para os pássaros não estragarem todo o trabalho que tive até aqui.
E hoje que fui à cooperativa comprar comida para o cão aproveitei e trouxe de lá mais umas plantinhas para a horta; tomates, pepinos e cougetes. Mais trabalho portanto...
  

E a juntar a isto tudo temos a língua russa que é preciso estudas um pouco todos os dias, e as notas da guitarra que ocupam cada vez mais tempo.

Era tão bom que a vida pudesse funcionar como a história das fatias de pizza.
"- Quer que divida as horas em quatro ou em oito partes?
- Divida em oito, que é para eu ter mais tempo."

domingo, 18 de fevereiro de 2018

O ar salgado do mar


Há uma praia distante onde as ondas vêm pousar de mansinho. Grandes blocos de pedra, erguem-se como guardiões, impedindo a fúria do mar de alcançar terra firme.
Sei que daqui a muitos milhões de anos a água mole vencerá a pedra dura. Talvez nem seja preciso tanto tempo, com o aumento do nível dos oceanos, a água mole passará por cima da pedra dura.
Mas por enquanto sinto-me protegido aqui. E posso sentar-me por longo tempo assistindo ao vai e vem das marés, ouvindo apenas as ondas a desfazerem-se em espuma, o vento a soprar para longe os salpicos do mar salgado e as gaivotas a piar enquanto voam em círculos procurando o peixe da próxima refeição.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

A poda



A minha primeira poda.
Quem não sabe, tem de aprender. É o meu caso.
Liga~se a internet, procura-se no google e depois pega-se na tesoura e no serrote.
É preciso cuidado porque a internet não ensina como não cair do escadote abaixo.


A coisa até que ficou com bom aspecto.
Tenho dúvidas é que no verão venha a dar maçãs.
Quase que apostava que não.


Pelo meio ainda dei umas tesouradas na laranjeira.






segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

A construção



As portas fecham-se
E as janelas abrem-se.
No entanto as paredes continuam a suportar o peso do telhado.

Foi pregando até chegar a uma parte da tábua onde, devido aos nós, a madeira era mais rija. Os pregos não entravam facilmente, então foi necessário aplicar mais força. Puro engano.
Devia saber, ou lembrar-se, que não se martela com mais força, a cabeça de um prego junto à qual está a cabeça de um dedo. O resultado pode ser…

Tinha agora tempo para pensar. A quantidade de pessoas que já estavam à espera na sala de espera, quando chegou, não deixava margem para optimismo.

Talvez que o problema fosse dos sonhos. Mas não, não podia ser, não acreditava nisso. A verdade é que nos últimos tempos tinha sonhado várias vezes com martelos. E agora, zás, acontecia-lhe um azar com um martelo.
Não podia ser, repetia para si próprio. Tantas vezes que sonhara em ganhar o euromilhões, e até agora nada, continuava a pregar pregos na vida.

A vida, a sua, era uma sucessão de sonhos pegados. E não só de noite, de dia, sobretudo de dia, também sonhava, e nada lhe acontecia, nem só um se tinha tornado realidade.
Portanto, a relação entre sonhar com martelos e dar uma martelada num dedo só podia ser coincidência.

Ah, as coincidências. Tantas que já lhe tinham acontecido. Como a martelada por exemplo. Se tivesse tirado o dedo um instante antes nada disto lhe teria acontecido.

Chamaram agora mais uma pessoa. A vida, ali dentro daquelas paredes, corria devagar. Tinha tempo para pensar nas muitas tábuas que tinha para pregar, nas muitas construções que tinha para erguer, nas muitas coincidências que tinha para enfrentar.
Custasse o que custasse, o telhado não podia desabar.


domingo, 11 de fevereiro de 2018

Onde anda a desobediência


Sinais dos tempos.
Não há rebanho que não tenha a sua ovelha ranhosa.
Ou não havia, porque até nisso as coisas estão a mudar: os rebanhos agora, a maior parte deles, são criados em "aviários".
Que dizer de um bando de gaivotas, todas iguais, todas alinhadas, sem uma única gaivota ranhosa?
Não vão longe, digo eu.

sábado, 10 de fevereiro de 2018

Brócolos de Mem Martins


Há cerca de duas semanas chegaram a este tamanho e não se desenvolveram mais.
Se não cresceram, os brócolos de Mem Martins vão fazer companhia às couves de Bruxelas na secção das mini hortaliças.



quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Era uma casa muito engraçada, parte final


A boa notícia do dia é que está pronto.
A má noticia é que está pronto mas não está acabado.
Eu explico.
A cabana está pronta, está toda montada, e posso desde já começar a utilizá-la.
O que falta é prende-la ao chão. Depois, aos poucos e com tempo vou tapar todas as aberturas para o exterior. Cada parte ondulada da chapa representa duas aberturas (uma em cima e outra em baixo) maiores do que a largura de um dedo polegar e por onde podem entrais quaisquer bicharocos.
Mas primeiro vou dar um descanso às mãos e aos dedos. Estão todos estragados. Quero tocar guitarra e não consigo. As cabeças dos dedos estão cheias de golpes e cortes.
A porta também vai precisar de uns reparos porque as duas metades não juntam bem, mas isso será no final porque é mais complicado. Não há muito a fazer porque tem a ver com a estrutura da casa. A solução é colocar uns remendos em borracha pelo interior.
Outra coisa a fazer é colocar um fio de silicone em todos os cantos, esquinas, arestas, pontas, e uniões das várias peças porque ao mais pequeno descuido a chapa corta mesmo





quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Era uma casa muito engraçada, parte 10


Já está. A estrutura ficou pronta hoje. Falta só a porta e mais uns acabamentos de pormenor.
Sem a ajuda que tive hoje não seria possível. Sozinho iria deixar vários parafusos do telhado sem serem colocados, mas assim a dois foram todos colocados.






terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Era uma casa muito engraçada, parte 9


Ao contrário do dia de ontem, hoje o avanço fui muito pequeno.
Estive a tratar de uma outra casota, a do cão.
Mas não foi só por isso.
Cheguei agora à parte realmente difícil.
Tanto a estrutura como as chapas que formam as paredes foram colocadas com parafusos simples.
Mas as chapas do tecto são presas com parafusos de porca.
Como é que eu vou conseguir estar na parte de baixo a segurar a porca e ao mesmo tempo rodar o parafuso pela parte de cima?
Começando pela travessa do meio, ao primeiro parafuso consigo chegar, ao segundo talvez, mas depois chega a um ponto em que a largura da chapa é superior ao comprimento dos braços...
Não perca as cenas dos próximos capítulos.


A cadeira de sonho


Não é só o André Villas-Boas que tem uma cadeira de sonho.
O Anibal Vidda-Boa também tem uma e não a larga por nada.
Neste momento há duas casotas de cão no quintal, mas já houve quatro e não consegui que ele entrasse em nenhuma. Não troca a sua cadeira por nenhuma casota.


Recentemente resolvi fazer-lhe um acrescento de luxo. Madeira da mais alta qualidade e paredes revestidas a papel.
Talvez o tecto tenha ficado um pouco alto, mas antes a mais do que a menos, posso sempre cortar e ajustar a altura. Tive receio de que se fosse baixo demais ele não entrasse.


Vou candidatar a casa ao prémio da próxima bienal de arquitectura de Mem Martins.



segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Era uma casa muito engraçada, parte 8


Hoje tive ajuda, e então o avanço na construção foi realmente grande.
Ainda assim houve algumas peças colocadas ao contrário, que depois de montadas foi preciso desmontar e voltar a montar.
Amanhã vai ser a parte mais difícil, o telhado.




domingo, 4 de fevereiro de 2018

Era uma casa muito engraçada, parte 7


"Um homem atrapalhado é pior do que uma mulher grávida".

O que faz uma pessoa sozinha quando lê nas instruções que "a montagem deve ser efectuada por duas pessoas"?
É simples; mete mãos à obra.
Até agora foi difícil, as dores nas costas que o digam. Daqui para a frente não sei como vai ser. Quando chegar a altura de colocar o telhado logo se vê.


Uma das dificuldades do dia de hoje foi a chuva. Ando há uma semana nisto e não consegui despachar-me antes que viesse o mau tempo. Mesmo em frente do estrado há uma poça de água enorme. A solução foi ir à loja comprar um saco de 25 kg de brita.


Depois de almoço parou de chover, mas em troca veio o vento, A coisa piorou um bocado.
Espero amanhã conseguir colocar uma parte grande dos painéis para dar mais consistência à estrutura. Assim como está ainda abana muito.


Prevejo dificuldades para amanhã. Até agora foram dificuldades fáceis. Parece uma incongruência.
Os parafusos são difíceis de colocar, é preciso fazer um bocado de força. Fazendo malabarismo, consegui montar o que já está, fazendo força de um lado com a chave de parafusos, ao mesmo tempo que fazia força do lado oposto em sentido contrário.
Quando tiver um painel de chapa à minha frente, como vou fazer para aparafusar de um lado e segurar do lado de dentro ao mesmo tempo?
Pois...


sábado, 3 de fevereiro de 2018

Era uma casa muito engraçada, parte 6


Quando comecei a espalhar os ferros pelo chão reparei logo num pormenor. Parecia que o estrado era grande de mais. E realmente era. Sobrava muito espaço.
Não é possível que eu me tivesse enganado nas contas, foi tudo verificado. A casa tem, segundo diz o folheto, a caixa, e o cartaz exposto na loja, 185cm x 245cm.
O estrado foi feito dando uma margem de 10 cm para cada lado. Mas o espaço que sobra de cada lado é bem mais de 10 cm.


Pus-me a pensar. Sentei-me numa pedra, apoiei o cotovelo no joelho, pus a mão debaixo do queixo, e pensei. E então descobri. As medidas que os cabrões indicam são as medidas do telhado, que tem um beiral a toda a volta da casa. A casa propriamente ditas é mais pequena, Por isso sobra espaço.
Não se pode confiar nestes gajos. Mas pelo menos sobra espaço, era pior se faltasse.


O trabalho que está à vista é de hoje de manhã. À tarde vou para Lisboa para a aula de russo e quando voltar vai estar escuro demais para poder fazer alguma coisa. Por isso vai ter de ficar assim até amanhã.
Espero que não faça vento porque as duas partes verticais estão instáveis. Como precaução segurei a travessa horizontal ao pilar. Não é grande coisa mas é melhor que nada.


Falta referir que as instruções são de facto difíceis de ler. Houve algumas peças que coloquei e depois tive de voltar a desmontar porque estavam numa posição incorrecta. Pareciam simétricas mas não são.