Escritos na varanda

Imagino-me a escrever na varanda, ao fim da tarde, com o Sol a por-se no horizonte e uma bebida gelada ao lado. Como eu nem sequer tenho varanda, tudo isto é ilusão.

terça-feira, 31 de outubro de 2017

Uma noite igual às outras


Já deu para o peditório das bruxas?
Não?
De que é que está à espera?
Olhe que há por aí muitas empresas, muitos empresários, muitos empreendedores à espera do seu dinheirinho, sua abóbora.

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

O barco vai de saída


"Ah mas que ingrata ventura
Bem me posso queixar
da Pátria a pouca fartura
Cheia de mágoas ai quebra-mar
Com tantos perigos ai minha vida
Com tantos medos e sobressaltos
Que eu já vou aos saltos
Que eu vou de fugida"


domingo, 29 de outubro de 2017

A fuga da hortaliça


Ingrata couve.
Anda uma pessoa aqui a tratá-las bem, a regar todos os dias e depois é isto, mal apanham o portão da horta aberto, fogem.
Hei-de comer-te toda!!!!!



sábado, 28 de outubro de 2017

Debaixo da ponte


Vês o mundo ao contrário?
Deixa lá, é temporário
Há mais mundo, mais contrários,
Há mais gente como tu.
Vês a imagem distorcida?
Deixa lá, é assim a vida
Em tudo há distorção
E há mais gente como tu.
Não aceitas o que vês?
Deixa lá, só esta vez
Procura, informa-te, junta-te,
É que há mais gente como tu.

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Retalhos


Por um momento sentou-se onde se sentam os senhores, de calça, casaco, camisa, e sapatos por limpar. Por um momento olhou e viu o mundo de frente. Por um momento descansou e tirou as mãos da graxa, da escova e do pano. Por um momento, talvez tenha pensado que estava do outro lado do espelho.
Obrigado, senhor.

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

O parque da cidade


António, chamemos-lhe assim, passava todos os dia por ali, bem cedo. Invariavelmente parava sobre a ponte, e fazia uma limpeza aos bolsos, deitando para o ribeiro tudo o que eles continham e que já não lhe interessava, principalmente papéis, muitos papéis, alguns amarfanhados, outros rasgados em bocadinhos, a às vezes ate moedas pretas, quando lá as havia, que segundo as suas próprias palavras, "só serviam para fazer peso nas algibeiras".
Depois continuava a seu caminho em direcção ao centro da cidade, enquanto endireitava o nó da gravata e alisava o bigode. António, chamemos-lhe assim, era uma das pessoas mais conhecidas e respeitadas na cidade.

domingo, 22 de outubro de 2017

Uma parede de Outono


Mudam-se as cores, os relevos, as texturas.
Muda-se tudo porque tudo é feito de mudança.
Basta olhar em redor, ver a vida, o mundo a história.
Ainda assim há excepções e são bem graves.
Tantas mentes que não evoluíram nada.
Funcionam como na idade das trevas.

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

As receitas da vovozinha



As alterações climáticas afectam não só os ventos e as marés, mas também as melgas. Parece que se reproduzem mais. Confesso que nunca tinha visto tantas. Em casa, lá muito de longe em longe, aparecia uma melga no quarto de vez em quando, e com algum trabalho conseguia-me livrar dela.
Esta semana, não apareceu uma. Nem duas, nem três, nem quatro, nem...
Apareceram muitas e todas de uma vez.
O pior é que nem sei de onde elas vêm, porque nem tenho aberto a janela. Durante a noite consigo matar duas ou três, mas no dia seguinte continuam lá várias.


A internet está cheia de páginas com dicas e receitas milagrosas. Experimentei duas delas, as que me apareceram em maior quantidade, e posso dizer por experiência própria, que são treta, não funcionam.
Primeiro usei limão com cravinhos espetados, metade em cada mesa de cabeceira. Como não resultasse, usei o plano B: vinagre.
Detesto vinagre. Em casa não o uso, e se for comer a algum lado e a salada tiver vinagre não a como. E agora dei-me ao trabalho de colocar no quarto uma tigela com vinagre. Ficou um cheiro pestilento ainda para mais com as janelas fechadas. E tudo isto para nada, porque as melgas continuam lá
Malditas receitas da vovozinha.

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

O verde da terra


Lugar de Vila Pouca, freguesia de Salzedas, concelho de Tarouca.
Uma imagem ao calhas que é a minha homenagem à terra e às gentes, a todas as terras e a todas as gentes que as trabalham.
Porque devia ser esta a cor da terra.

O tecto


terça-feira, 17 de outubro de 2017

O pauzinho na engrenagem


Desde que o tempo é tempo, que a vida funciona sempre da mesma forma, com mais ou menos sobressaltos, mas sempre passageiros.
Quem manda pode, quem não pode obedece, e os privilégios de uns justificam a morte de outros.
É preciso virar tudo ao contrário.

segunda-feira, 16 de outubro de 2017

O país dos especialistas


A especialidade maior, é sem dúvida o futebol. Não há quem não comente fintas, faltas e foleirices, como o penteado, a namorada, a roupa, o filho, a mãe, a irmã.
Depois, como não podia deixar de ser, temos Fátima, e vamos lá lançar uns foguetes mesmo sendo proíbido, para comemorar o andor com a altura da Torre dos Clérigos, que se deus quiser não acontece nada.
A descair nas sondagens, mas ainda assim bem colocado, temos o fado, que isto da tradição já não é o que era, e há por aí muita gente a tocar fado com cornetas e pandeiretas, até estrangeiros já vêm para cá cantar o fado, valha-nos a nossa senhora das cordas de guitarra. O que ainda salva o fado do descalabro total é que não há nada melhor para acompanhar uma bela bebedeira.

Em sentido inverso, temos agora e cada vez em maior número, especialistas numa terrível, trágica e odiosa moda, que são os incêndios. Por via de uma qualquer desconhecida equivalência, há agora um bando de clones do Relvas, convencidos de estarem habilitados a dar opinião sobre a forma de combater esta tragédia.
O que esta gente toda quer sei eu, como dizia o outro, com a diferença de que o outro tinha piada. No fundo isto tudo é semelhante ao que se passa no concelho do ex-presidiário, onde há quem diga abertamente que votaram [nele] porque se lá estivessem faziam igual.
Querem todos é tacho.

domingo, 15 de outubro de 2017

sábado, 14 de outubro de 2017

Milho verde


"Milho verde, milho verde
Milho verde maçaroca
À sombra do milho verde
Namorei uma cachopa"


sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Morangos


Hoje foi o dia de maior colheita.
Normalmente apanho um morango de cada vez, às vezes dois, uma outra vez apanhei três, caso raro, mas hoje a horta bateu todos os recordes e por larga margem.

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Penedo da saudade


O penedo tem um farol, talvez para ser visto bem ao longe. No fundo, é para isso que servem os faróis. Já o penedo...
Apesar do nome, não foi saudade que senti quando la passei. Apenas uma vaga lembrança, perdida muito longe, nos confins da memória.
Às vezes sou muito esquecido.

quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Citrinos


Aproxima-se a época do ano que eu gosto mais, com uma tangerineira e duas laranjeiras no quintal.
O ano passado deram pouco mas este ano, apesar da falta de água, parece que a quantidade de fruta vai ser maior.


terça-feira, 10 de outubro de 2017

Cherovia


Uma cherovia depois de descascada e lavada ficou com este aspecto.


E agora, o que eu faço com isto?
Sem precisar de pensar muito veio logo a ideia de por na sopa. Tem um cheiro um pouco acentuado, é mole, e tem uma consistência fibrosa. Misturado com os restantes ingredientes e tudo passado nem se deve notar, pensei eu.

Apesar da ideia da sopa, fui ao computador e perguntei ao Google: "Google meu, Google meu, há alguma receita de cherovia para eu?"
E o Google mostrou-me várias páginas.
Fiquei a saber que depois de apanhada tem tendência a ficar mole, e que o cheiro é parecido com o do anis. Sim o cheiro era vagamente familiar mas confesso que sozinho não conseguia descobrir o que era.

Embora as várias páginas digam que pode ser cozinhada de diversas maneiras, a esmagadora maioria das receitas, quase todas aliás, falam de cherovia frita.

Portanto, já tenho programa para amanhã: esqueço a sopa e vou dar uso à fritadeira que há muitos anos que não é usada.
http://yammireceitas.com/cherovias-fritas-moda-beira/?utm_source=rss&utm_medium=rss&utm_campaign=cherovias-fritas-moda-beira
(Isto é apenas um exemplo)

Actualizado no dia seguinte:

Veredicto


Não fiquei satisfeito. Além de ter provocado um cheiro a fritos num raio de trinta metros, aquilo é de facto muuuuuiito fibroso. Parecia que estava a comer casca de pinheiro.
Talvez a culpa seja minha, poderia tê-las apanhado dois meses atrás, mas como as deixei na terra mais tempo podem ter ficado mais rijas por isso. Para tirar dúvidas só plantando de novo e colhendo mais cedo para comparar.
Não sei a que é que sabe. Com o cheiro a fritos entranhado no nariz, só me soube a fritos...
Acho que o resto vai mesmo para a panela da sopa.


segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Perspectivando a coisa


À quadratura do circulo, contraponho com a rectangularização da elipse.
Uma teoria igualmente difícil de provar.

domingo, 8 de outubro de 2017

Nova época agrícola


Depois de algum descanso no verão, recomeçam novamente os trabalhos.
Já preparei o espaço para os espinafres.


Vou fazer o mesmo para as cenouras. O ano passado plantei e não correu nada bem,  as cenouras tinham um ou dois centímetros de tamanho. Espero ter aprendido alguma coisa. Vamos ver se este ano sai melhor.

Entretanto já há algumas alfaces a caminho.


Para o resto do espaço ainda não pensei o que fazer. Tenho de ver bem os diversos tipos de plantas.
Dos vários erros do ano passado, o maior de todos foi ter plantado courgetes, que em vez de crescer para cima, cresce para os lados, tapando tudo à sua volta. As que eu plantei atingiram sem exagero um diâmetro de cerca de 1,5m. É uma planta que precisa de muito espaço e numa horta tão pequena não dá rendimento: se plantar isso não posso plantar mais nada.
Tenho de ler o manual de instruções de cada planta para decidir o que fica ali melhor.

sábado, 7 de outubro de 2017

Resto da colecção primavera / verão


Vai começar uma nova época e para isso é preciso limpar o terreno dos restos da colheita anterior.
Já pouco falta, há uns tomateiros que ainda vão dar dois ou três tomates e as cherovias.
Hoje arranquei uma mas ainda falta outra. Isto dá tanto trabalho a tirar que nem compensa plantar mais. E nem sequer sei se gosto disto ou não. As duas primeiras que apanhei dei-as, esta agora é que vou provar.
Qual será o sabor disto?
Será que sabe a cherovia?
Argh!


sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Passeio de lobo mau pelo bosque encantado


- Tu és o lobo mau?
- É o que dizem de mim.
- Porquê?
- Porque a maior parte das pessoas não são capazes de dizer "não sei", dizem sempre qualquer coisa mesmo que seja inventada só para ficarem bem vistas perante os outros.
- Ah, e porque é que és mau?
- Achas que sou mau?
- É o que dizem.
- Já te fiz mal?
- Não.
- Já me viste fazer algum mal?
- Não?
- Tens cabeça debaixo desse capuchinho vermelho?
- Claro.
- Então porque não a usas para pensar em vez de repetires o que os outros te dizem?
- Porque tenho de acreditar no que me dizem, e obedecer também, senão batem-me
- E achas isso bem?
- Não sei, sempre foi assim.
-  Certo, então se achas que eu sou mau só porque te dizem, começa a correr e foge de mim.
- Mas tu não me fizeste mal.
- Em que é que acreditas afinal, no que vês ou no que te dizem?
- Agora não sei, essa conversa toda baralhou-me.
- Bom, fazemos o seguinte: faz de conta que não nos encontrámos, eu sigo o meu caminho e tu segues o teu.
- Mas vamos os dois pelo mesmo caminho, podemos conversar.
- Eu vou entrar no caminho da floresta.

(Continua)


quinta-feira, 5 de outubro de 2017

A luz que nos alumia


Está um bocadinho porco, o candeeiro. Um pano do pó não lhe fazia mal nenhum, se é que aquilo é pó.
Pelo aspecto deve ser do tempo da iluminação a petróleo. E manteve-se intacto até aos dias de hoje. O que prova que a sujidade conserva.

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

terça-feira, 3 de outubro de 2017

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

A cambra municipal


Ontem houve eleições para as cambras municipais deste país, incluindo naturalmente a da minha terra, tão bonita que até lhe tirei um retrato.
De labregos a gente de bem (que os haverá, certamente), de presidiários a músicos (?) pimba, de novos oportunistas a clientes habituais destas andanças, aparece de tudo um pouco.
Não há notícia de distúrbios, motins ou cargas policiais, o que significa com toda a certeza de que este circo todo não serve para nada. Sim, um circo, com Tiriricas de verdade e tudo.
Porque, como alguém disse e muito bem, se votar servisse para alguma coisa, seria proibido. Veja-se o que infelizmente aconteceu no mesmo dia na Catalunha.
Mas, sabem uma coisa? Até o Camões já sabia que todo o mundo é composto de mudança.
Nisto, como em muitas outras coisas, as pequenas derrotas da democracia apenas adiam, não vão conseguir evitar o inevitável.