Escritos na varanda
Imagino-me a escrever na varanda, ao fim da tarde, com o Sol a por-se no horizonte e uma bebida gelada ao lado. Como eu nem sequer tenho varanda, tudo isto é ilusão.
domingo, 31 de janeiro de 2016
sábado, 30 de janeiro de 2016
Pedro, o Flautista
"Sei de quem tem Hi-Fi
E lê enciclopédia
Mas este negro curte mais
Mesmo só com onda média."
(Carlos Tê e Rui Veloso, em "O negro do rádio de pilhas")
sexta-feira, 29 de janeiro de 2016
Vagas de silêncio
Viramos as costas fechamos os olhos e
tapamos os ouvidos.
A luz que ofusca transforma-se em
escuridão. O ruído das ondas, abafado pelos pensamentos, transforma-se em
silêncio.
Tudo pronto, a viagem interior pode
começar.
quinta-feira, 28 de janeiro de 2016
Beatles Penny Lane
Nesta escola que é a vida, o sumário de hoje é: "Continuação da lição anterior".
O video até foi feito ontem, só que não houve tempo para o colocar online.
quarta-feira, 27 de janeiro de 2016
Aprendiz sofre
Ontem foi dia de andar a passear e tirar fotografias, por isso hoje tive que me aplicar um pouco mais.
Isto toca-se de olhos fechados, mas embiquei e não consigo atinar com a coisa.
Foi preciso um quarto de hora para tocar sem enganos uma coisa de um minuto e meio.
Fiquei com os ouvidos em bico com os apitos do metrónomo.
Irra.
terça-feira, 26 de janeiro de 2016
Um dia igual aos outros
Embora parecesse, a paisagem não estava completamente
deserta. Duas ou três pessoas caminhavam no areal, mais duas ou três pessoas
passeavam-se pelas rochas por baixo de mim onde também se encontravam alguns
pescadores.
Parece ser uma característica constante a
lugares como este. Há sempre alguém em busca da solidão, mesmo que seja uma solidão
partilhada com outros. Atrevo-me a pensar que cada um na sua solidão nem repara
na existências de outros, mas até posso estar errado.
Fim do dia, fim da solidão solitária. Um
por um, cada um ao seu ritmo, vão regressando.
Amanhã é um novo dia, mas a cena é a mesma embora
com outros intérpretes.
segunda-feira, 25 de janeiro de 2016
Enquanto a noite dorme
Não havia luz, só o brilho pálido da Lua
coado por farrapos de nuvens que ainda não se tinham desfeito em chuva.
Não havia sons, só a música triste e
ritmada da maré a embater nas rochas do paredão.
Não havia cheiro, só o perfume acre do lodo
deixado a descoberto pela maré.
Não havia calor, a noite estava fria e tu
não te chegavas a mim.
Mil vezes me aproximei, mil vezes te
afastaste.
Mil vezes te chamei, mil vezes não
respondeste.
Mil vezes te olhei, mil vezes viraste a
cara.
Tenho a agradecer-te a confiança que
depositas e mim. No regresso, enquanto eu conduzia tu dormias profundamente.
domingo, 24 de janeiro de 2016
Não está cá ninguém
Ela ligou-lhe e disse:
- Estou no café, não queres vir cá ter comigo? Não está cá ninguém.
Ele foi ter ao café.
Não estava lá ninguém.
A história original não é esta. Isto é apenas uma adaptação minha. Para os devidos créditos deveria mencionar o respectivo autor mas lamentávelmente não sei quem é.
Depois de, pela manhã, cumprir o meu dever de votar, à tarde fui até Almada ver "A tragédia optimista" de Vsevolod Vichnievski, pela Companhia de Teatro de Almada.
Saí de lá mais anarquista do que quando tinha entrado. E digo isto sem qualquer preferência pelas partes em confronto na história.
Digo-o porque não estava ninguém no café.
E deveria estar.
sábado, 23 de janeiro de 2016
É quase verão
"Quase" é relativo. O tempo é relativo, tudo é relativo. O quase que falta é o tempo necessário para nos prepararmos convenientemente.
sexta-feira, 22 de janeiro de 2016
Poesia marginal
Apetece-me apagar um cigarro
Mas não posso, eu nem sequer fumo.
Apetece-me partir este copo
Está vazio, já bebi o conteúdo.
Apetece-me nadar neste rio
Não consigo, eu não sou o Marcelo.
Apetece-me gritar o meu nojo
Não adianta, a sociedade não ouve.
Apetece-me espreitar para dentro
Para quê se não há nada para ver?
Apetece-me fingir de maluco
Estou farto de tanta gente normal.
Apetece-me fingir que não faço
Mas um dia hão-de ver que acontece.
quinta-feira, 21 de janeiro de 2016
O lago dos sonhos
Trazia tudo preparado, a corda, a pedra. Só
lhe restava esperar. Chegou, olhou em volta lentamente como quem admira a
paisagem, encaminhou-se para um banco de jardim vazio e sentou-se.
Do banco de jardim vazio o seu olhar vazio
percorreu o espaço vazio que o rodeava. Viu a Lua subir lentamente acima do
horizonte, viu os patos a entrar e a sair da água, viu um bando de gaivotas a
voar em círculos, viu um melro a saltitar sobre a relva à sua frente. Uma das
vezes que apareceu quase pousou na ponta do seu sapato, de tão imóvel que
estava.
Quando lhe pareceu que já estava escuro o
suficiente e que mais ninguém andava por ali, levantou-se e encaminhou-se para
a beira do lago. Tirou a pedra do bolso e atou-lhe a corda. Depois pegou nos
seus sonhos e atou-os à outra ponta da corda. Fazendo pontaria àquilo que lhe
pareceu ser a parte mais funda do lago, atirou o conjunto todo com quanta força
tinha.
Enquanto regressava a casa pensou: Pronto,
já está! Com sonhos destes quem é que precisa de pesadelos?
quarta-feira, 20 de janeiro de 2016
Amor em tempo de guerra
A maré estava a subir, parte do pontão já
estava submerso, não poderiam ficar ali muito mais tempo. O Sol também estava
quase a pôr-se, em breve ficaria escuro. E quando isso acontecesse sairiam
dali, despedir-se-iam, e cada um seguiria para sua casa.
Voltariam a ver-se? Voltariam sequer a
falar-se?
Era talvez o medo de enfrentar o
desconhecido que o impedia de falar. Sabia que não teriam futuro, o que não
imaginava é que o futuro começasse já amanhã.
Sabia que iam haver barricadas e cada um
estaria num lado diferente. O mundo eternamente dividido em classes. E
famílias. As boas de um dos lados, as outras num lado qualquer. E havia também
todos aqueles que não tinham família e por via disso nem direito a barricada
tinham. A carne para canhão.
Ocorreu-lhe que pudessem desertar os dois.
Ah, mas havia dois problemas. Mais uma vez o medo a tolher-lhe os movimentos:
sabia de fonte segura, pois era o seu coração que lho dizia, que gostava dela o
suficiente para fazer isso, mas nem se atrevia a fazer a proposta, pois sabia
também que não tinham nenhuma relação assim tão profunda que o justificasse.
Relação profunda existia, e esse era o
segundo problema, entre ela e o seu mundo, as suas origens, o seu status. E
trocar tudo isso pela companhia de um soldado raso, e ainda por cima do inimigo,
era coisa que estava obviamente fora de questão.
Não tinha explicação para o facto de ter
começado a gostar dela. E acaso essas coisas têm explicação? Gosta-se e pronto.
Começa tudo como se fosse um sonho, deixamo-nos adormecer e quando acordamos vêm as dores todas ao de cima. Custa muito enfrentar a realidade habituados que
estávamos ao sonho.
A preocupação principal agora era com os danos
colaterais. Sabia, mais uma vez de fonte segura, que pela sua parte não lhe
causaria a ela nem sequer um arranhão.
Mas, e ao contrário? Não tinha certezas.
Havia o risco muito grande de as más influências que a cercavam a virarem
contra si. E se isso viesse a acontecer custar-lhe-ia tanto como a morte.
Encolheu os ombros, suspirou e resignou-se
com a sua sorte. No fundo, sabia que histórias cor de rosa que acabem sempre
bem existem apenas na literatura e no cinema. Na vida real não há guião, é tudo
de improviso.
terça-feira, 19 de janeiro de 2016
E um copo na mão
Sim, eu sei, o que sabia bem era ter na mão um copo, podia ser de whisky por exemplo. Assim aquecia também por dentro, já que este calorzinho mal chega para aquecer os pés.
Mas não, o que tinha na mão era uma caneca de chá com mel, por causa da constipação.
Atchim.
Santinho.
segunda-feira, 18 de janeiro de 2016
Over the hills and far away
Assim cantavam os Led Zeppelin em 1973.
Muita coisa mudou daí para cá. Apesar disso e apesar da distância, sobre a montanha continuam a existir momentos deslumbrantes.
Pena que outros olhos não os vejam também.
domingo, 17 de janeiro de 2016
Outra dimensão
No exterior do carro há um universo paralelo onde a chuva eleva os viajantes à dimensão de encharcados.
sábado, 16 de janeiro de 2016
Sem rumo
Tantas são as direcções
Em que nos movimentamos
Tantas as desilusões
De manhã quando acordamos
Tanta areia já pisada
Tanto caminho adiado
Tanta estrada remendada
Tanto destino marcado.
Sobe a maré de repente
E a água branca da espuma
Apaga os rastos da gente
Sobra pegada nenhuma.
É então que o recomeço
É lei da sobrevivência
Há que pagar esse preço
P’ra sairmos com decência.
sexta-feira, 15 de janeiro de 2016
Na companhia do vento
Não falta muito para o Sol se pôr. A olho nu está apenas a alguns centímetros da linha do horizonte, o que significa que não aquece praticamente nada. Apesar do céu claro a temperatura está baixa.
A única companhia que ali tenho é a do vento. Tem sempre qualquer coisa para me dizer e normalmente não são notícias agradáveis.
Hoje sopra forte do lado do mar, húmido portanto, o que agrava a sensação de frio. Até as gaivotas desapareceram. Costuma haver sempre gaivotas por ali, mas já aqui estou há mais de uma hora e não vi nem uma.
Espero que não me venham depois dizer que eu não lhes falo. Eu falo... se elas falarem comigo.
quinta-feira, 14 de janeiro de 2016
Um resto de luz
Um resto de luz no dia que quase finda. Um rasto de luz que teimosamente tenta fixar-se no horizonte como que tentando ali permanecer para todo o sempre.
Em vão. "Todo" é uma metáfora para algo maior que o estritamente necessário, e "sempre" um eufemismo para um período de tempo maior do que a imaginação consegue alcançar.
Poderia pelo menos ter ali ficado até ao dia seguinte, mas nem isso. Depois das trevas da noite o dia seguinte nasceu cinzento e chuvoso por dentro e por fora.
Quando assim é há que esperar que a Primavera traga de novo o Sol para brilhar por dentro e por fora.
terça-feira, 12 de janeiro de 2016
Stairway to Heaven
Tudo o que sobe desce. Ainda assim, são essas alternâncias que constituem o prazer supremo da brincadeira.
segunda-feira, 11 de janeiro de 2016
Mauro Giuliani - Allegretto
Porque é de allegretto que aqui se trata, o tom de brincadeira comum a todas as minhas músicas hoje sai reforçado.
domingo, 10 de janeiro de 2016
Um palmo de vida
Não se vê um palmo à frente do nariz, por isso é impossível saber o que se esconde no nevoeiro.
A vida, no entanto, cabe toda, inteira, no mísero espaço de um palmo que temos em nosso redor.
A vida não se mede aos palmos, nem a dignidade se compra ou troca por visões mais alargadas.
sábado, 9 de janeiro de 2016
Do esquecimento
Lembro de ti o que não quero esquecer. Por
vezes paro e pergunto-me porquê, porque é que eu não quero esquecer se não há
nada para lembrar.
O vazio, o grande nada, foi o meio onde nos
movimentámos. Tu seguindo o teu caminho, eu seguindo a minha ilusão. Por breves
instantes cruzá-mo-nos. Tu continuaste o teu caminho, eu fiz de ti a minha
ilusão.
Não há nada para recordar, mas ainda assim
não te quero esquecer. São as ilusões que me mantêm vivo. O que mata mesmo é a
realidade.
sexta-feira, 8 de janeiro de 2016
Descanso
Nem sempre é possível, nem sempre se consegue, mas quando a oportunidade surge, podem tocar telefones e telemóveis, apitos de mensagens ou skypes, pode chover ou fazer sol, pode estar frio ou calor, não há nada que impeça o corpo, e sobretudo o espírito, de descansar.
O primeiro passo é tirar os sapatos, depois qualquer posição serve, seja na vertical ou horizontal.
quarta-feira, 6 de janeiro de 2016
Matteo Carcassi Andantino
Desde há cerca de três meses que o mundo
parece virado ao contrário. O meu, pelo menos.
O
princípio chegou depois do fim,
No
meio não há ordem nem desordem,
As
respostas não são não, nem são sim,
Os
cães já não ladram, os gatos mordem,
Guerra
e paz começam num motim,
Falam
em castidade os que mais fodem.
Faz-se
da vida um eterno faz de conta.
Somos
tratados como sendo gente tonta.
(Isto um dia vai ter continuação, espero
eu.
O poema quero eu dizer, não o mundo ao
contrário, espero)
O tempo é como se não existisse. A rotina
tem-se resumido a acordar, chatear-me, comer, dormir, para no dia seguinte
voltar a acordar e seguir os mesmos procedimentos.
A guitarra, o meu maior interessa actual,
tem estado arrumada a um canto. Entretanto mudei de “estúdio”. Espero que as
coisas a partir de agora comecem a melhorar. A música e a vida.
terça-feira, 5 de janeiro de 2016
A entrada
Embora um bocado receoso, transpus a entrada. O que ia encontrar era novo para mim.
Olhei em frente: degraus. Sabe-se lá onde conduziriam.
Olhei para trás: a sombra dela não me saia do pensamento.
Fechei os olhos, respirei fundo e dei o primeiro passo.
segunda-feira, 4 de janeiro de 2016
A casa sem nome
Ali onde a luz do Sol não entrava e o ar há muito que perdera a frescura da brisa que descia da serra, habitava um homem sem nome.
As janelas só com muito boa vontade se podiam chamar janelas. O chão era um tapete de lixo onde em alguns sítios os pés se enterravam até ao tornozelo. As paredes eram apenas os suportes que impediam que o tecto desabasse. O tecto, esse, era apenas um rendilhado de tábuas carcomidas que deixavam passar as gotas de chuva e de onde pendiam ramos de hera, teias de aranha e morcegos.
Nada ali respondia pelo seu nome próprio. Era uma casa sem nomes.
Até o tempo se recusava a entrar desde que o relógio se transformara num mostrador ferrugento a que faltavam os ponteiros.
sábado, 2 de janeiro de 2016
Sebastião o indesejado
As pernas cansadas levaram-no a sentar-se
numa pedra. Não era o sítio mais apropriado porque estava molhada devido à
humidade no ar, mas não havia outro local e o cansaço era muito.
À falta de cajado, apoiou-se no tripé da
máquina fotográfica. Inclinou-se para a frente e apoiou a testa nas costas das
mãos. Fechou os olhos por uns instantes e viu o nevoeiro por dentro. Abriu-os e
viu o nevoeiro por fora. Estava cercado. Apenas distinguia os vultos das
árvores no meio do silêncio cinzento que o rodeava.
Ocorreu-lhe uma ideia: e se desaparecesse
no nevoeiro? De certeza que ninguém daria pela sua falta.
sexta-feira, 1 de janeiro de 2016
Talvez nada
Talvez não haja nada para lá da escuridão da noite. Talvez não haja nada para lá da escuridão da vida. Talvez nem haja vida. Talvez...
Esta areia onde enterro os pés. Esta água que me gela os ossos. Este vento que me arrefece a cara. E no entanto...
No entanto nada.
Esta vontade de sair voando. Esta vontade de correr saltando. Esta vontade de dizer gritando. Esta vontade talvez não seja nada.
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