Escritos na varanda
Imagino-me a escrever na varanda, ao fim da tarde, com o Sol a por-se no horizonte e uma bebida gelada ao lado. Como eu nem sequer tenho varanda, tudo isto é ilusão.
quinta-feira, 31 de março de 2016
Onda curta
O botão de sintonizar já estava gasto de tanto procurar outro canal. Não havia outro canal, a onda era curta demais.
O que precisava era de outra banda, mas os vizinhos reclamavam da música.
Se ao menos conseguisse encontrar outra estação. Mas depois teria de arranjar também dinheiro para o bilhete, visto que não tinha passe.
Uma parabólica talvez resolvesse a situação, mas temia ficar paranóico com tanta escolha.
O melhor seria esperar pela subida da maré. Dizem que tem ondas maiores.
terça-feira, 29 de março de 2016
A mesa (parte 8)
A questão da cunha está quase resolvida. O acabamento final será feito quando chegar a altura de lixar este topo da mesa.
Mas existe um outro problema potencial. Felizmente já tinha sido previsto por Albert Einstein na sua Teoria da Relatividade.
É que a falha existente no tampo da mesa é relativa. Por um lado e suficientemente grande para ser ignorada, além de que não é prático um tampo com alturas diferentes onde os pratos, as travessas, etc esbarram ao serem movidos; por outro lado é demasiado pequena para me permitir colocar cola em quantidade no seu interior.
Ou seja, está colada mas não sei se está bem colada. No sentido do empeno das tábuas não há problemas pois tenho total confiança na cunha que fiz.
Mas quanto ao afastamento lateral não sei se a quantidade de cola é suficiente para contrariar a força de tracção da madeira.
É aqui que entra em acção a chapa de metal aparafusada na parte de baixo do tampo. A mesa há-de chegar ao fim da sua vida útil por outros motivos quaisquer, mas esta racha há-de ficar igual ao que está hoje.
segunda-feira, 28 de março de 2016
A mesa (parte 7)
O processo seguinte usa um método sobejamente conhecido, o método da cunha: mete-se uma cunha e já está.
Neste caso concreto dá um bocado mais de trabalho porque é preciso fazer antes uma abertura onde vai entrar a cunha, que será feita posteriormente de acordo com as medidas finais do buraco.
domingo, 27 de março de 2016
A mesa (parte 6)
A cola posta no tampo da mesa está a secar. Duas das tábuas que formam o tampo estavam descoladas e uma delas ligeiramente empenada.
Tive que primeiro prender as duas partes no sentido vertical para que ficassem com o mesmo alinhamento, o que foi conseguido de uma forma aproximada.
Depois coloquei cola na ranhura e com um grampo maior apertei no sentido horizontal para tentar eliminar a racha.
(ver fotos do post anterior)
Para a continuação do trabalho vou precisar de dois formões. Não tinha nenhum e então tive que comprar. Um formão tem um preço que ronda os 10, 12, ou 15 euros (ou mais).
Na prateleira das promoções encontrei um conjunto de quatro por menos de cinco euros. É uma sorte serem de metal. Vai levar muito tempo e desgaste até que fiquem com a ponta devidamente afiada, mas são os que tenho e por isso a bem ou a mal hão-de cortar.
Para os afiar preciso de uma pedra própria. Também não tinha e tive que comprar. Numa grande superficie de ferramentas custa cerca de 12 euros. Numa loja de bairro comprei por 2.
Esta é uma das razões (não a principal) pela qual sou cliente das lojas de bairro. Grandes superfícies só em último recurso.
Na bancada da cozinha, entre fritadeiras, torradeiras e balanças não há a mínima hipótese de afiar uma ferramente com o mínimo de qualidade.
É por isso que um dos próximos projectos, e com carácter de urgência vai ser fazer um suporte para a pedra de afiar, de modo a conseguir prendê-la na bancada de trabalho.
sábado, 26 de março de 2016
A mesa (parte 5)
Parece que o mundo inteiro se uniu para me tramar. Neste caso o mundo da meteorologia.
Não pára de chover, e agora tenho além da mesa, algum material à chuva, como pode ser visto na última foto.
O que estive a fazer foi basicamente colar o tampo e prendê-lo com grampos para o manter no lugar.
O trabalho que vou fazer a seguir tem de ser feito com os grampos ainda colocados. É um trabalho de alguma precisão e feito à chuva torna-se mais difícil.
Vamos ver o que nos reservam as nuvens nos próximos dias.
sexta-feira, 25 de março de 2016
Banco dobrável
Agora até poderia ir à pesca, mas os peixes não me fizeram mal nenhum...
Uma grande parte do banco foi feita na bancada da cozinha e no chão. Assim é difícil que as coisas fiquem direitas, alinhadas e sem folgas.
Tenho mesmo que arranjar uma bancada de trabalho.
O protótipo está um bocado desarticulado porque ainda faltam dois pedaços de madeira, duas travessas para unir as pernas, mas no fim de semana não me apetece ir para a confusão da loja comprar mais uma ripa.
O pior de tudo foi terem-me perguntado se leva dobradiças. Isso é um verdadeiro insulto para um carpinteiro.
quinta-feira, 24 de março de 2016
Com o vento a favor
Era hora do regresso, e todo o bocadinho de brisa conta para ajudar a contrariar a maré que começava a vazar.
quarta-feira, 23 de março de 2016
A mesa (parte 4)
Quando se vêm muitos filmes do MacGyver dá nisto.
Até agora tem sido trabalho trabalhoso mas fácil.
O trabalho difícil vai começar agora.
terça-feira, 22 de março de 2016
Aldeia da luz
Na aldeia da luz as sombras não chegam. Rodeada de nuvens e de penumbra, é uma luz que guia e orienta os viajantes perdidos nas cercanias em redor.
Nos contrafortes da serra virados a sul, dispõe de uma situação privilegiada para receber os últimos raios do Sol poente, brilhando por isso na brancura resplandecente da sua simplicidade.
Passados os momentos de descanso, é igualmente um dos primeiros lugares onde os raios do Sol nascente vêm pousar.
Luz não lhe falta, e da boa, da natural. Mas está condenada porque a sociedade moderna prefere os neons.
domingo, 20 de março de 2016
Sombras de luz
Já as sombras desciam devagar
Envolvendo em penumbra o fim de tarde
Fazendo o pensamento divagar,
Absorto na lareira que ali arde.
Já as sombras desciam e os ponteiros
Marcavam uma hora aproximada,
Foi-se o vento, caiam aguaceiros,
Tu não vinhas e nem dizias nada.
A garrafa já ia em metade,
E nem a noite ainda começou,
Fui buscar mais uma porque a vontade
De estar aqui contigo terminou.
Deixa lá que não vai haver saudade,
Foi um sonho lindo que se esfumou.
sábado, 19 de março de 2016
O formigueiro
Neste formigueiro vivem milhares de formigas. E tal como as formigas de seis patas, estas formigas de duas patas também comunicam pelas antenas. As antenas dos telemóveis.
sexta-feira, 18 de março de 2016
Cruzamento
Enquanto uns param outros andam. Enquanto
uns seguem outros viram. Enquanto uns ficam outros vão. Enquanto uns depressa
outros devagar. Enquanto uns sobem outros descem. Enquanto uns mais perto
outros mais longe.
Depois muda o sinal e volta tudo ao início,
com outros personagens, outros figurantes. A cidade não dorme e as suas gentes
não querem ficar quietas.
quinta-feira, 17 de março de 2016
Notas soltas
O pó já tomou conta das teclas. Entre
acordes maiores, escalas diatónicas e melodias básicas, há uma linha comum: a
do esquecimento.
Também as cordas na sua desafinação
natural, repousam esquecidas dos arpejos de outrora. Somente quando um pé mais
desleixado na sua passagem lhes acerta é que fazem ouvir o seu lamento rouco.
A eléctrica por seu lado converteu-se à
ecologia e não tem gasto electricidade nenhuma. Está à espera que apareça a
palheta e pela forma como as coisas estão vai ter de esperar muito tempo.
quarta-feira, 16 de março de 2016
Solitário
Como é que fora ali parar? Não sabia. Olhava
em volta e via-se sozinho no alto de um monte, apenas com a companhia de
pedras, muitas pedras.
A memória já o atraiçoava muitas vezes,
buscava lembranças dos antigos companheiros e não encontrava nenhumas, ou
porque tivessem já todos perecido há muito tempo ou porque nunca tivessem
existido.
Talvez fosse um produto do vento, essa
companhia inseparável, quer de verão quer de inverno. Talvez tivesse sido uma
semente perdida que as garras da ventania tivessem trazido e depositado
precisamente ali onde se encontrava.
Ou, quem sabe, fosse o sobrevivente
derradeiro do fogo que anos atrás consumiu quilómetros e quilómetros em redor.
Fosse qual fosse a sua origem, agora era
tarde para mudar. Nada mais restava do que aguardar a passagem dos dias, das
estações, dos anos, até ao momento em que largaria no chão a sua última pinha.
terça-feira, 15 de março de 2016
O reencontro
Olá, tu por aqui?
O que andas a fazer?
Há anos que não te vejo.
Não estás muito falador hoje pois não?
Mas olha, deixa-me dizer-te, em nome da
transparência, que já tinha saudades tuas.
segunda-feira, 14 de março de 2016
domingo, 13 de março de 2016
O recanto escondido
O local ficava nos confins de um vale
perdido entre montanhas distantes. Só a água se fazia ouvir ali. Os pássaros,
que os havia por ali às centenas, esvoaçavam de árvore em árvore, mas os seus
trinados eram abafados pela queda da água proveniente das chuvadas do fim do
inverno.
Aproximou-se o mais que pode da cascata e
procurou um sítio para se sentar. Havia por ali vários troncos de árvores
tombadas e escolheu uma. Tirou a mochila das costas e pousou-a nos joelhos que
o chão estava molhado dos salpicos da água.
Sem pressa abriu-a e tirou o farnel, e com
toda a calma do mundo ali ficou a mastigar enquanto as sandes duraram.
Ficou contente consigo próprio por ter
escolhido bem o sítio. Estava-se bem ali. O telemóvel que normalmente só tocava
quando alguém precisava de si, ali não tinha possibilidade de o incomodar
porque nem rede havia.
Acabada a comida passou à bebida, e
novamente sem pressa ali ficou até que as sombras da tarde lhe indicaram que
era tempo de deixar a civilizada natureza e iniciar o caminho de regresso à
selva da vida quotidiana.
sábado, 12 de março de 2016
A mesa (parte 3)
O processo vai avançando ao ritmo da chuva.
É verdade, só posso trabalhar quando não chove, pois a minha "oficina" é na rua, ao ar livre.
Entretanto já testei parte da engenharia mecânica necessária para reparar a tábua empenada no tampo, e funcionou tudo conforme previsto.
Só me falta fazer mais um pequeno teste e depois espero estar à altura e conseguir fazer o que tenho na ideia. Já comprei duas das três ferramentas que vão ser necessárias.
sexta-feira, 11 de março de 2016
A vitória
É daquelas coisas que não se percebiam muito bem. Não era difícil, ainda assim falhava quase sempre.
Só que, desta vez, quando tudo parecia perdido, eis que surge a vitória.
quinta-feira, 10 de março de 2016
A aranha
(foto: Rafaela)
Fios e fios, e fios, e fios.
Fios por todos os lados.
A aranha gigante enreda-nos a todos na sua teia.
Fios e fios, e fios, e fios.
Fios por todos os lados.
A aranha gigante enreda-nos a todos na sua teia.
quarta-feira, 9 de março de 2016
Descendo a serra
Era quase noite. O vento soprava com
intensidade. O frio acentuava-se a cada minuto que passava. O caminho era
sinuoso e estreito, o que dificultava o avanço.
Por enquanto não chovia, mas era uma
questão de tempo, pois descendo a serra, grossas nuvens aproximavam-se com
rapidez empurradas pelo vento norte.
Era uma corrida contra o tempo. Quem
chegava primeiro a casa, eu ou o nevoeiro?
terça-feira, 8 de março de 2016
O guardador de boias
(Foto Jorge Completo)
Guardador de bóias é uma profissão como outra qualquer.
Só que às vezes o funcionário adormece durante o serviço.
Guardador de bóias é uma profissão como outra qualquer.
Só que às vezes o funcionário adormece durante o serviço.
segunda-feira, 7 de março de 2016
Era uma casa muito engraçada
... não tinha tecto não tinha nada...
Enganei-me, não é assim, a música é esta mas a letra é outra.
Março de 2005.
Enganei-me, não é assim, a música é esta mas a letra é outra.
Março de 2005.
Memórias de um tempo em que era construtor
civil, arquitecto, engenheiro, projectista, carpinteiro, pintor, electricista,
além de fiscal que fazia vistorias e passava licenças de habitabllidade. *
As restantes fotos do T0 estão no Google
Fotos
* E motorista de pesados: o estaleiro da obra era em Sintra e o local de entrega ao cliente foi no Porto
domingo, 6 de março de 2016
A mesa (parte 2)
Nada animador este segundo contacto.
Avaliação dos estragos:
- O tampo está num estado miserável, vou gastar muitas folhas de lixa...
- Duas das tábuas estão descoladas e empenadas. O maior desafio vai ser este, colocá-las direitas.
- Um dos cantos tem uma grande farpa quase arrancada. Não vai ser fácil de disfarçar.
- Um buraco de caruncho num dos pés. Para não estar em contacto com o chão (e com a água que acumula quando chove), a mesa foi posta em cima de madeira... carunchosa.
Lá mais para o verão, se tudo correr como previsto, estará pronta.
sábado, 5 de março de 2016
A mesa (parte 1)
Primeiro foram vários anos numa cave / armazém, com toda a espécie de lixo em cima.
Depois foi desmontada à marretada porque os parafusos já estavam grudados na própria madeira.
Agora está há quatro meses na rua, ao sol e à chuva.
Será que ainda tem recuperação possível?
Não perrrrrccca as cenas dos próximos capítulos!
quinta-feira, 3 de março de 2016
O jardim das pedras soltas
Bolas!
Ou melhor dizendo: Pedras!
Tanto trabalho e até agora ainda nenhum resultado visível.
O carregamento de pedras quase rompia a mochila e teve de ser carregado com a preciosa ajuda da Ana, mas apesar de grande e pesado não chegou para quase nada.
E ainda faltam os outros canteiros...
quarta-feira, 2 de março de 2016
O pato
Já por várias vezes tinha visto na net imagens e videos de patos a atravessar estradas, e pela forma como são apresentadas sempre me pareceu propaganda americana.
Hoje aconteceu assistir ao vivo a um atravessamento desses, o que comprova que não é preciso usar chapéu à cóboi e mastigar pastilha elástica de boca aberta para deixar um grupo de patos atravessar a rua em segurança.
terça-feira, 1 de março de 2016
A minha linha
Além da Linha do Tua existe também a linha da minha.
A linha da minha vontade de viajar nela. Não sei de onde vem nem para onde vai, mas parece-me interessante.
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