Escritos na varanda
Imagino-me a escrever na varanda, ao fim da tarde, com o Sol a por-se no horizonte e uma bebida gelada ao lado. Como eu nem sequer tenho varanda, tudo isto é ilusão.
sábado, 31 de outubro de 2015
Grão de areia
Grão a grão a areia vai tomando conta de tudo, preenchendo os espaços, sedimentando lembranças, encalhando memórias, até não restar mais nada do que um ténue vislumbre daquilo que foi e não voltará a ser.
Alguns dirão que é a inexorável passagem do tempo.
Outros, que é a incúria humana.
sexta-feira, 30 de outubro de 2015
O lago
Caminhei um bocado ao acaso por entre as árvores.
Ouvia apenas os meus próprios passos, o chapinhar dos patos no lago, o canto
dos pássaros voando de ramo em ramo, um grilo distante, o vento agitando as
folhas.
Sentei-me à beira do lago quando encontrei
um local que me pareceu confortável, tanto quanto um pedaço de chão o pode ser.
Uma erva que podia à vista desarmada confundir-se com relva cobria a terra,
enquanto a árvore que ali crescia tinha o tronco torcido, com uma inclinação
que me permitia encostar como se estivesse reclinado num sofá.
Vim depois a descobrir que o conforto era só
aparente, e devido à dor nas costas, rapidamente mudei de posição: inclinei-me
para a frente, coloquei os cotovelos sobre os joelhos, apoiei o queixo nas mãos
e ali fiquei.
Lembrava-me de a ter levado ali uma vez.
Foi à muito tempo. Na altura não falávamos muito, sentámo-nos algures por ali,
e ficámos a ver a água. Passado um bocado tirou os chinelos, levantou-se e foi
molhar os pés entrando devagar pela água, quase até aos joelhos.
Já eu imaginava que se iria transformar em
sereia e encantar-me, e eis que volta para trás e acabou-se o encanto: queria
ir embora porque a água estava fria e gelaram-se-lhe os dedos.
quinta-feira, 29 de outubro de 2015
Agitação marítima
Parece que há quem coma peixe a mais, diz
um relatório, naturalmente feito por “especialistas” na matéria.
Os que comem, acrescento eu, porque há
muitos que nem peixe nem (quase) nada, infelizmente. Mas sobre isso não há “especialistas”
a debruçarem-se.
Ainda há uns dias apareceu outro relatório,
este sobre a carne e os enchidos.
Ninguém acha estranho tantos “especialistas”
e tantos relatórios. E ninguém acha mais estranho ainda haver relatórios sobre
tudo e mais alguma coisa e não haver relatórios sobre mac-hamburgueres ou sobre
tota-tola ou sobre batatas fritas.
Sobre isso os cobardes dos “especialistas”
não têm coragem de se pronunciar.
E (quase) ninguém parece ter coragem de se
importar
quarta-feira, 28 de outubro de 2015
Para além da curva
Talvez que nada mude, e tudo se mantenha
sempre igual, mas sonhar não custa, e por isso podemos imaginar que para além
da próxima curva que a vida nos apresenta, um mundo novo, diferente, melhor, se
abre diante dos nossos olhos.
terça-feira, 27 de outubro de 2015
segunda-feira, 26 de outubro de 2015
Por onde ir quando a estrada acaba?
Por momentos penso que não poderia haver
mais. Puro engano, havia mais. Ainda havia mais chuva para cair, mais
relâmpagos para iluminar o céu escuro, mais trovões para ensurdecer os ouvidos.
O temporal era dos grandes e estava encharcado,
mas isso nem era o pior. O corpo molhado acaba por secar. O pior mesmo era que
a estrada tinha chegado ao fim. Sim, eu sei que procurando bem encontra-se
sempre um atalho, uma vereda, uma viela por onde, com maior ou menor
dificuldade, se pode passar. Tal como os becos: mesmo um beco sem saída, tem
sempre uma entrada.
Só que aqui é diferente. Não é a falta de
caminho, que por acaso até nem há. Mas mesmo que houvesse. É a falta de
motivação.
Cheguei ali para nada. Continuar para quê,
se além do nada apenas há mais nada?
domingo, 25 de outubro de 2015
Lady Guinevere
Ei-la que aparece envolta em frio e
nevoeiro. Os cabelos desgrenhados parecem uma teia de aranha presa algures nos
confins do mundo. Os olhos são tristes mas altivos como os de uma rainha devem
ser.
Senta-se numa pedra do caminho. Apetece-lhe
descansar e não lhe apetece falar. Talvez um dia.
O seu rei ficou retido nas brumas do
passado. Para sempre talvez.
Recuperadas as forças, levanta-se. É tempo
de seguir viagem rumo à luz do dia.
sexta-feira, 23 de outubro de 2015
Ventania
Abrem-se as portas
Solta-se o vento
Sopram rajadas
Tudo rodopia.
Abrem-se então
Goelas profundas
Ouvem-se os gemidos
Das árvores que gritam.
Erguem-se do chão
As folhas caídas
Torcem-se os ramos
Caem mais folhas
Das nuvens ao alto
Saem grossos pingos
Engrossam os rios
Nas margens da vida.
De tudo o que sobra
Já nada mais resta
Quando a tempestade
Retorna à bonança.
Nos rostos e olhos
Há sinais de medo
Da esperança que é vâ
Do futuro incerto.
As mãos impotentes
Agarram o que podem
Da vida já resta
Pouco mais que nada.
São horas agora
De outro recomeço
Contam-se os estragos
À vida que resta.
quinta-feira, 22 de outubro de 2015
Quando o telefone toca
Quando o telefone toca não é ela que me
liga. Todos os dias repito para mim próprio que não espero nenhum telefonema
mas a verdade é que não consigo enganar ninguém nem a mim próprio, e lá vou eu
ver o que me reserva o visor não vá ela precisar de alguma coisa. Sim, que quando
precisa, liga.
Também não é para pedir música, isso já não
se usa.
Ultimamente o telefone tem tocado sempre duas
vezes e não é o carteiro. É telemarketing e parece que é legal.
Tudo o que é contra as pessoas, desde o que
mata até o que apenas moi, parece que é legal. E estes telefonemas todos moem-me
a paciência.
Não serve de nada dizer que estão a
incomodar e exigir que escrevam na base de dados que têm à frente do focinho que
não quero ser contactado de novo. Eles estão-se marimbando para os meus
incómodos e voltam mesmo a ligar.
Ah, mas quanto aos incómodos deles, parece
que a coisa é diferente. Vai daí comecei eu incomodar-lhes a carteira, que é a
única coisa a que esta escumalha dá valor.
Todas as vezes que ligam, e são muitas,
pagam uma chamadinha, porque eu atendo-os, só que o telefone fica pousado onde
estiver e eles falam sozinhos até se cansarem.
Talvez assim aprendam.
quarta-feira, 21 de outubro de 2015
Beatles - Blackbird
Blackbird
singing in the dead of night
Take
these broken wings and learn to fly
All
your life
You
were only waiting for this moment to arise.
Blackbird
singing in the dead of night
Take
these sunken eyes and learn to see
All
your life
You
were only waiting for this moment to be free.
Blackbird
fly Blackbird fly
Into
the light of the dark black night.
Blackbird
fly Blackbird fly
Into
the light of the dark black night.
Blackbird
singing in the dead of night
Take
these broken wings and learn to fly
All
your life
You
were only waiting for this moment to arise
You
were only waiting for this moment to arise
You
were only waiting for this moment to arise.
terça-feira, 20 de outubro de 2015
Nada se repete
É chuva ou lágrimas
O que molha o teu rosto?
É o vento ou
Os teus dedos nervosos
Que despenteiam o teu cabelo?
É raiva ou tristeza
O que apaga o teu sorriso?
Caminha à chuva
De cabeça levantada.
Enfrenta o vento
Sem medo das rajadas.
Sorri ao teu dia
Quando chegar a manhã.
Enterra bem fundo
O que trouxeste de ontem.
O amanhã vai chegar
E nada se repete.segunda-feira, 19 de outubro de 2015
A cidade vazia
Era uma cidade onde os bancos de jardim
estavam vazios. O próprio jardim estava vazio.
As pessoas, vazias, refugiavam-se longe dos
olhares vazios de esperança de quem acidentalmente passava.
Esvaziaram corações e carteiras. Esvaziaram
sonhos e desejos. Esvaziaram frigoríficos e despensas. Esvaziaram
fábricas e escolas. Esvaziaram até a própria vida.
A cidade, vazia de vida e de vidas jazia
solitária e inerte sob o calor do Sol que teimava em passar todos os dias.
domingo, 18 de outubro de 2015
Falésia
Não havia pedra onde o mar não tivesse já batido com força. No entanto as pedras continuavam lá, o mar também, embora com avanços e recuos de parte a parte.
Poder-se-ia dizer qual o mais forte e qual o mais fraco? Não!
Que sentido faz comparar coisas que não são compráveis? Cada um tem o seu espaço e o seu papel, cada um é importante à sua maneira.
É onde a terra acaba que o mar começa e nada como uma dia de marés calmas para apreciar a beleza dos dois lados da fronteira, de um lado as rochas estáticas, do outro as águas sempre em movimento.
sábado, 17 de outubro de 2015
À espera que o vento passe
O sopro das nuvens derruba árvores, postes e telhados
Qualquer guarda-chuva é presa fácil para as rajadas que circulam em contramão e acima da velocidade máxima desejável.
Os raios do Sol incendeiam os altos estratos da atmosfera, e a cor do fogo alastra como se não houvesse água suficiente para o apagar.
Indiferentes, os pingos de chuva cobrem tudo com o húmido manto que permite aos bombeiros manterem-se em actividade para não enferrujarem.
sexta-feira, 16 de outubro de 2015
Sol ou chuva
Não sei como vão ser os próximos dias.
E o prazo está a esgotar-se.
Os próximos dias estão quase a chegar e eu não sei o que fazer com eles.
Só sei que tenho que fazer alguma coisa.
quinta-feira, 15 de outubro de 2015
A receita
Os produtores de iogurte vão ter a vida mais difícil.
Perderam mais um cliente.
1 litro de leite
1 iogurte natural
Mistura-se bem.
Deixa-se em repouso dentro da caixa durante 6h.
Já está.
quarta-feira, 14 de outubro de 2015
terça-feira, 13 de outubro de 2015
segunda-feira, 12 de outubro de 2015
Tempestade
Um céu de tempestade. Na terra as condições são semelhantes, e quem anda à chuva molha-se. Depois de muitos litros de água, uns raios de Sol passam através das nuvens.
Um pequeno passo para o raio de Sol, mas um passo de gigante para quem está molhado até aos ossos.
domingo, 11 de outubro de 2015
O fio condutor
- Um dava choque, outro não fazia contacto, outro tinha falta de tensão, outro tinha a polaridade invertida. Um era de terra, outro de massa, um não tinha sinal, outro tinha excesso de carga.
- Calma meu amor, eu ajudo-te a encontrar o fio condutor.
- Qual fio condutor qual carapuça, estou a falar dos homens da minha vida.
sexta-feira, 9 de outubro de 2015
Never look behind
Foto Jorge Pereira
So
goodbye, there I go
Down
the road with no end
I’m
the one who should know
When
I’m losing a friend.
Left
my dreams all behind
Don’t
need them anymore
In
the distance I’ll find
A
new friendship and more.
One
by one I will drop
All
the hopes that I’ve made
Finally
I will stop
Find
the dreams had all fade.
I
have waited too much
Don’t
want to waste more time
Hope
that we keep in touch
But
our feelings don’t rhyme.
There’s
no time to feel sorrow
A
new life to discover
I
can’t wait for tomorrow
Have
my pride to recover.
quinta-feira, 8 de outubro de 2015
Um céu cor de chumbo
Pode dar-se o caso de que as aparências
iludam. Aparentemente não é bem assim. Trata-se apenas de uma desculpa
esfarrapada dada pelo iludido para tentar justificar a sua ilusão.
“Ah e tal, vai chover, vamos ficar em casa”,
justifica-se o iludido perante a cor do céu.
Permitir que a perspectiva de chuva impeça
o sentido da vida, que é vivê-la na sua plenitude, mesmo à chuva, é abrir a
porta a que outra justificação qualquer o faça. Basta que haja um mau exemplo
primeiro.
quarta-feira, 7 de outubro de 2015
À janela
Gostava tanto de poder estar sem fazer nada
à janela. Mas qual quê, era impossível estar ali à janela sossegado sem que
aparecesse logo noutra janela uma vizinha com conversas habituais de vizinhas
de janela. Até parece que estava à sua espera.
Para quem não sabe, é completamente
diferente estar sem fazer nada sentado numa cadeira ou num sofá e estar sem
fazer nada à janela. Da cadeira ou do sofá vêm-se quatro paredes, da janela
vê-se o mundo. É essa a diferença.
terça-feira, 6 de outubro de 2015
domingo, 4 de outubro de 2015
Mensagem
Depois de cair em mim com a perplexidade tenho de me levantar. De novo.
Amanhã é outro dia e há sempre um Sol a iluminar estas trevas.
Estou farto deste mundo que me rodeia, mete-me nojo a gente com que me cruzo.
A luta continua, mas desta vez uma luta diferente, a luta pela sobrevivência. Cada um por si e eu por mim. Era isto que eles queriam e por mim ganharam, mas foi a única vitória que tiveram. A minha dignidade, isso nunca irão conquistar.
sábado, 3 de outubro de 2015
Reflexão
Like a mirror held before me
Large as the sky is wide
And the image is reflected
Back on the other side
(Alan Parsons Project)
Um espelho reflecte apenas o que lhe colocarem à frente.
Donde se deduz que se for uma besta...
Pois, o resultado não é nada animador.
De qualquer modo, espero que este dia nacional da reflexão tenha sido produtivo.
Sei que não o foi para todos, porque há uma besta que já anunciou que vai reflectir mas na 2ª feira...
sexta-feira, 2 de outubro de 2015
Ai Portugal, Portugal
Houve tempo em que expulsaste os invasores vindo de fora.
Agora nem mesmo os invasores vindo de dentro consegues expulsar.
Não passas de uma miragem.
E desfocada.
Subscrever:
Mensagens (Atom)