Escritos na varanda

Imagino-me a escrever na varanda, ao fim da tarde, com o Sol a por-se no horizonte e uma bebida gelada ao lado. Como eu nem sequer tenho varanda, tudo isto é ilusão.

quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

2015


Mais logo, sobre a região do "doze", o ponteiro dos minutos passará rápido e sem se deter sobre o ponteiro das horas. 
Dirão todos que entrámos num ano novo. Dirão alguns que não mudará nada. Dirão outros que irão mudar alguma coisa.
Pior estarão os utilizadores de relógios digitais que ficarão reduzidos a zero.
Em todo o caso convém lembrar que o tempo não muda, avança. Quem muda são as pessoas.
Aquelas que querem claro.
Para aqueles(as) que quiserem mudar, os meus votos de que mudem para o melhor possível.

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Ao longe o mar


- ... e ali ao longe, aquela língua de areia é a praia d....
- Ai amor, o que eu gosto da tua língua.
- Estava a falar de uma língua de areia.
- Quero lá saber se tem areia, anda cá!
- ...


segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Frio


22H10. Cheguei a casa, vindo da minha caminhada diária de trinta minutos que não foi possível fazer durante o dia.
Pego no carro para o arrumar e o mostrador indica 8º. Bem, está um bocado de frio realmente mas nada que não se suporte. Espero que a temperatura baixa mate os vírus da constipação. Não posso é apanhar calor, não vão eles desatar a multiplicar-se e ai nunca mais me livro da tosse.

domingo, 28 de dezembro de 2014

Dez mil


Chegado aqui hoje (ontem não fui à varanda) eis que deparo com o contador de visitantes acima dos dez mil.
Muito obrigado a todos os que visitaram este espaço.
Espero que continuem a vir até cá. A única coisa que posso prometer para o futuro é que mesmo quando me sair o euromilhões, (e espero que saia pois tenho muito onde gastar o dinheiro) não será nunca para transformar a varanda numa marquise pirosa.
Há-se ser sempre um espaço arejado, sobretudo de ideias.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

O pato


Antes de ser diagnosticado com depressão ou baixa auto-estima, certifique-se de que não está rodeado por um bando de idiotas.
William Gibson

Só me vem à cabeça aquela velha adivinha idiota: “O que faz um pato com uma pata dentro de um lago? Nada”.
O centro da questão aqui é exactamente o nada. O lago também mereceria uma referência mas não aqui nem agora. Fica para outra oportunidade.

Não é pois de admirar que o pato se veja transformado em arroz de pato ou pato com laranja. Ou até na variante mais moderna e low-cost de pato de maçã.
Talvez o problema sejam mesmo as companhias idiotas, sei lá.


quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

O Pai Natal


Há uns anos li uma notícia que me deixou estupefacto e que nunca mais esqueci: uma professora disse aos seus alunos, de nove e dez anos, que o Pai Natal não existe, e foi despedida.


Além da revolta natural por ver a forma absolutamente anormal como os poderes instituídos decidem a vida das pessoas (uma pessoa que diz a verdade é privada do seu emprego, enquanto o bando dos mentirosos ainda se acham no direito de se sentirem ofendidos), a minha maior perplexidade adveio da incompreensão: não percebia como aquilo era possível, não sabia de todo que em pleno século XXI houvesse tanta estupidez.

Muitos anos depois fez-se finalmente luz na minha cabeça. É de facto incomensurável o poder da estupidez. Para este tipo de gente, as pessoas não valem nada, são apenas objectos sem direitos nenhuns, nem o mais básico direito a poder dormir descansado, e a quem se tem que fazer lavagem ao cérebro desde pequeno para perpetuação da espécie.

Sim, depois do que eu vi, não me custa a entender porque a professora foi despedida.


terça-feira, 23 de dezembro de 2014

A música do bosque


A música do bosque é o canto e o esvoaçar dos pássaros que o habitam; o gemer do restolho e das folhas pisadas por algum reptil que se movimenta; é a corrida dos predadores e a fuga desesperada das suas vítimas.

Houve um tempo em que esta música foi abafada por um gigantesco concerto em dó maior para motosserra e trator. Era um tempo em que motosserras, tratores, camiões e homens, muitos homens, se dirigiam às florestas e cortavam pinheiros aos milhões. Não que os pinheiros tivessem feito algo de mal, era apenas para celebrarem uma festa em honra de um deus qualquer.

A estupidez e a ganância pelo lucro não desapareceram, antes pelo contrário, cada vez aumentam mais, mas na era do plástico, pelo menos os pinheiros sem culpa de nada foram deixados em paz.


segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Canção de Natal (Alegrete)


Continuando na música, aqui fica a segunda gravação que fiz ontem. Na véspera a Luisa Vaz Tavares partilhou no Facebook a partitura de uma música de Natal da sua terra e eu resolvi fazer-lhe uma surpresa. Porque a Luisa merece destas surpresas.

domingo, 21 de dezembro de 2014

Boas Festas de Solstício de Inverno


As milenares festas do solstício de Inverno foram roubadas, adulteradas, descaracterizadas e renomeadas pela cultura vigente.
Agora chamam-lhe Natal, e têm como padroeiros o Santo Consumo e a Nossa Senhora do Centro Comercial.

Para quem celebrar o solstício de Inverno, aqui fica um presente e os votos de que este novo ciclo anual vos traga tudo o que desejam.


sábado, 20 de dezembro de 2014

Um simples pormenor


Um pormenor é sempre pequeno. Pequeno no sentido de que é uma parte do todo. É portanto relativo. É no entanto uma das partes que constituem o todo e sem ele o todo não o seria porque estaria incompleto.
Um pormenor faz a diferença mas não substitui a importância que o todo tem. Da mesmo forma o todo vale apenas pela soma de todas as suas pequenas partes.
Dito isto, depreende-se que as mudanças ocorrem quando algum pormenor origina que o todo no seu conjunto perca o valor que lhe era atribuído, ou faça com que o objectivo final seja diferente do que era esperado, ou ainda quando o rendimento fica aquém das expectativas.


sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

O banqueiro bom


Fui bancário durante mais de vinte e cinco anos. Não guardo grandes recordações desse tempo, excepto algumas situações pontuais e alguns poucos bons amigos que conservo ainda passados cerca de nove anos da passagem à reforma antecipada.
Naquilo que mais gostei de fazer na vida, o atletismo, o mérito mede-se com um cronómetro ou com uma fita métrica. No banco mede-se pelas palmadinhas nas costas.
Na maioria dos casos trata-se de gente demasiado importante para que eu me importe com eles. Vive-se de pareceres e de aparências. De ilusões e de desilusões. De valores monetários na coluna dos créditos e de valores morais na coluna dos débitos.

Ainda bem que saí de lá. Pude assim evoluir. De bancário passei a banqueiro. Mas um banqueiro bom, um banqueiro que faz bancos. Não como a corja que constantemente nos entra pelas televisões dentro, e que para o bem de milhões de pessoas, haviam de nem sequer ter nascido.


quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Robocop


O novo Robocop não está pronto a actuar porque o equipamento vem incompleto. Falta a bela da metralhadora.
E há por aí tanto coelho que merece ser caçado.


segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

A caminhada


Caminho, logo ando!
Eu caminho mas não vou a lado nenhum, porque eu caminho às voltas: volto sempre ao ponto de partida.
Aliás não poderia ser de outra forma, caso contrário poderia perder-me.
A caminhada é um substituto light da corrida. O pé ainda não está bom o suficiente para correr.
Ao fim de onze dias seguidos a caminhar, hoje quase que me esquecia. As rotinas alteraram-se por causa de levar (e buscar) o carro à oficina. Lembrei-me a tempo de não me esquecer, mas mesmo assim só fui caminhar depois de jantar.
E devo dizer que notei uma diferença para melhor. A média foi superior à dos outros dias e isto sem ter feito qualquer esforço adicional para isso. A razão é o facto de quase não haver transito, e não precisar de parar ao atravessar as ruas, o que mesmo a andar quebra o ritmo.
Fiquei portanto cliente da noite. O pior é o frio.

domingo, 14 de dezembro de 2014

O menino a quem contaram histórias



Os olhos semicerrados devido à claridade intensa estavam fixos no vazio. O infinito, se é que existe, devia ter mais conteúdo do que aquilo que tinha à sua frente: água e mais água, sempre vazia, sempre em movimento, e um espaço a que chamam céu, imenso, vazio, apenas preenchido com a com a azul.

Não é que esperasse encontrar ali alguma coisa. Ao fim deste tempo todo já não esperava encontrar nada. E no entanto...

Tinham-lhe contado tantas histórias sobre o infinito. E também sobre a eternidade. A eternidade está para o tempo como o infinito está para o espaço. Mas seria mesmo assim?

Quem lhe contou estas histórias contou-lhe muitas outras que se revelaram mentira, porque é que estas haveriam de ser verdadeiras?

Quem lhe contava histórias de igualdade sentia-se superior às demais criaturas.

Quem lhe contava histórias de amor odiava tudo o que fosse contrário aos seus princípios.

Quem lhe contava histórias de paz fazia a guerra a quem quisesse ser livre e independente.

Quem lhe contava histórias sobre o valor do conhecimento falava-lhe de pregos para ocultar a sua ignorância sobre parafusos.

Sim, tudo o que lhe contaram era mentira.

A eternidade de facto não existe, o fim já não andará muito longe.

Tirou o chapéu e com as costas da mão limpou da testa os pingos de suor devido ao calor.

Estava na hora de regressar, já ali estava à bastante tempo. Com algum custo curvou-se e apanhou a bengala caída na areia. Apoiando as mãos na pedra onde se sentara fez força para ajudar o corpo a erguer-se.

Deitou um último olhar ao vazio que tinha diante de si, e murmurando entre dentes “Infinito? Bah...” deu meia volta e afastou-se coxeando.



sábado, 13 de dezembro de 2014

A espera solitária


O areal imenso parece minúsculo comparado com a imensidão do mar. Alheia às disputas quantificativas, a gaivota divide o seu tempo entre um e o outro. São dois lugares onde pode estar, logo são iguais na sua diferença.
E espera.
A espera faz parte da existência. Por entre os detritos espalhados na areia ou cercada pela espumas das ondas é durante a espera que observa o mundo que a rodeia e escolhe o próximo lugar onde as asas a vão levar.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

A lenda desconhecida de Francisco Caga-Tacos - take 2


Gostaram do vídeo?
Pois…
Eu também não gostei do resultado final, houve uma ou outra coisa em que me enganei, mas deu-me um gozo imenso fazer papel de Toino.
Trata-se apenas de um esboço de uma apresentação que era para ser feita no lançamento do 4º livro do João Madeira, mas como não era bem isto que se pretendia o espectáculo ficou sem efeito.

Quanto a mim, não há nada a fazer, isto já não tem cura.

Mas quanto a vocês sim tem solução, basta comprarem o livro e ficam a conhecer em directo a narrativa da lenda.

O contacto da editora é este:

Boas leituras.






quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

O vôo solitário da gaivota


Há uma certa indiferença da gaivota em relação ao mundo que a rodeia. Que é bem agreste, por sinal. O seu vôo prende-se com razões de subsistência e não de obediência.
Ignorando avisos, proibições e interdições a gaivota abre as asas e dando largas à sua liberdade, sobrevoa o que chamam de perigo, mas do qual ela sai incólume.
A gaivota sabe quando deve vir a terra, não precisa de avisos multicoloridos.
A gaivota é um animal, na verdadeira acepção da palavra. Não usa trela nem chip. Não obedece ao dono porque não tem dono.
Não pertence ao grupo dos animais inteligentes que dão a pata quando lhes mandam dar a pata ou que rebolam quando os mandam rebolar.
A gaivota é estúpida. Estupidamente livre.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

A lenda desconhecida de Francisco Caga-Tacos


Meio dia. Depois de uma manhã de meio teatro (meio porque só assisti a uma pequena parte) eis-me à espera de transporte para o Porto.


Finalmente chega o TGVzinho português.


Chegada ao Porto já tarde mas ainda a tempo de sair do autocarro uma paragem antes e tirar algumas fotos.


A tempo de chegar ao Bar Bonaparte para a apresentação do livro A lenda desconhecida de Francisco Caga-Tacos, de João  J. A. Madeira.


Contrariando o protocolo (o que eu gosto de contrariar, o que quer que seja, incluindo protocolos) o respectivo autógrafo foi dado antes da apresentação, para poder apanhar o transporte de regresso o mas cedo possível.


Parabéns Madeira por mais este romance. Votos de muito sucesso.






Um agradecimento muito especial à Cristina, sem a boleia não teria apanhado o autocarro das 19h.


Durante a viagem de regresso e já depois de saber a triste notícia.

domingo, 7 de dezembro de 2014

Teatro de Natal



Um fato de vaca artesanal, feito com uma camisola interior, umas ceroulas e uma lata de tinta preta em spray.


O chifres feitos com cartolina e elástico das cuecas.


Tudo a postos para subir ao palco, na sede do Mem Martins Sport Clube.


O pretexto era a festa de Natal do ATL.


O resto foi divertimento.




sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Contágio


Isto de passar muito tempo sentado em frente do computador tem destas coisas: pega-se.
Tantos dias sem computador, porque adoeceu e tive que o levar à oficina.
Agora que regressou, passou-me a mim a maleita.

domingo, 23 de novembro de 2014

Baisers Volés @ Centro InterculturaCidade


Sur la place ou tout est tranquille
Une fille s’est mise à chanter
(Jacques Brel)

Vendredi j’etait à Centro InterculturaCidade pour écouter le concert des Baisers Volés.
C’est la troisième fois que je les écoute. Je pense qu'ils ont fait un grand progrès depuis le début.
Je espère qu'ils continuent à jouer. La prochaine fois je serai là si possible.
Merci Justine.
Merci Rini.
Merci André.
Merci Centro InterculturaCidade.


quinta-feira, 20 de novembro de 2014

A casinha


Um dia, quando for grande e me sair o euromilhões, quero ter uma casinha assim.
Excêntrico, né?

terça-feira, 18 de novembro de 2014

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

O pé e o chinelo


Um pé de chinelo e um pé com chinelo.
Quem é quem?
Percebem a diferença?


sábado, 15 de novembro de 2014

Um longo entardecer


Os pássaros. Outra vez os pássaros, sempre os pássaros. Não se ouvia mais nada além do canto e do voo dos pássaros. É verdade que também conseguia distinguir o agitar das agulhas dos pinheiros provocado pelo vento, mas na sua simplicidade chegava a acreditar que o vento era provocado pelo movimento das asas dos pássaros.
Se ela ali estivesse…
Decerto quebraria o silêncio, com a sua conversa e o seu riso. Não era pessoa de ficar calada muito tempo. Mas não estava.
E não era de agora que não estava. Era há muito, muito tempo.
Já várias vezes tinha pensado no assunto e nunca encontrara resposta. Não sabia porque ano após ano voltava sempre àquele lugar. Não era para pensar nela, porque sabia que a queria esquecer. Não era à espera de a encontrar, porque sabia que ela nunca voltava atrás. Não era pelo fascínio do lugar, que apesar de belo, calmo e silencioso é apenas um no meio de tantos outros que existem.
Fechou os olhos e ao fechá-los reviu aquele longo entardecer em que os dois nus dentro de água, ali ficaram até que os reflexos de prata da Lua que acabava de surgir por sobre os cabeços da outra margem lhes recordou que eram horas de regressar.


sexta-feira, 14 de novembro de 2014

A sorte


Para uma cabra, isto seria um belo pasto.
Para um burro seria apenas um campo de trevos onde, talvez escondido lá no meio, esteja um com quatro folhas, que ao ser encontrado lhe trará imensa sorte.
Burrices.

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

A abordagem


Durante muito tempo a abordagem era um crime. Praticavam-na os piratas no mar sempre que encontravam um navio indefeso.

Depois, sem que se saiba muito bem como, passou a ser legal. As pessoas são constantemente abordadas numa simples visita a um centro comercial. Os motivos são vários: desde a venda com intuitos meramente comerciais, até às vendas com o objectivo de “ajudar”.

Alguém tem noção de como é ínfima a parte da “ajuda” que chega a quem necessita?
Alguém se apercebe que as bancas que surgem como cogumelos por todo o lado, a vender artigos que não servem para nada, “para ajudar as crianças” ou “para os cãezinhos abandonados” são a parte visível de estruturas que têm obviamente “gestores” e demais despesas administrativas associadas, salários (os abordantes), taxas pela ocupação dos espaços, etc?

Porque não dar directamente a alguém em vez de dar a intermediários?


terça-feira, 11 de novembro de 2014

O piquenique.


Por uma razão qualquer difícil de explicar a namorada do José amuou durante o piquenique para o qual ele a tinha convidado na sexta. Então ele pegou na cesta, colocou-a por baixo da cabeça e fez uma sesta.

Não é longe


Procurei-te nos caminhos perdidos na memória. Vasculhei os recantos mais sombrios do pensamento e só encontrei sombras do passado. Nuvens tenebrosas cobriam com pingos de chuva os locais outrora percorridos por alegres raios de Sol. O vento soprava inclemente e a cada nova rajada trazia-me aos ouvidos ecos distantes do teu nome.

Apetecia-me sentar mas além do chão que pisava não havia mais nada. Apetecia-me voltar para trás mas sabia que tinha que continuar em frente. Apetecia-me fazer alguma coisa diferente daquilo que sabia que tinha que fazer. Apetecia-me fazer tanta coisa, mas era tarde. Era tão tarde.

Um carro passou por mim e uns metros mais adiante parou na berma da estrada. Quando me aproximei uma janela abriu-se e uma voz lá de dentro perguntou-me para onde ia e se queria boleia. Agradeci a oferta recusando-a, dizendo que não valia a pena molhar-lhe o carro pois estava ensopado. O local para onde ia não era longe, acrescentei.