Escritos na varanda
Imagino-me a escrever na varanda, ao fim da tarde, com o Sol a por-se no horizonte e uma bebida gelada ao lado. Como eu nem sequer tenho varanda, tudo isto é ilusão.
quarta-feira, 30 de dezembro de 2015
sábado, 26 de dezembro de 2015
Infinitamente sem destino
A carruagem da vida está vazia por enquanto. Em breve vai encher e seguir viagem.
Quem entra? Quem sai? Quem se senta ao lado? Quem segue até ao fim?
sexta-feira, 25 de dezembro de 2015
quarta-feira, 23 de dezembro de 2015
Prisão domiciliária
Fios e cabos electrificados. Redes e vedações. Passagens proibidas.
Circulação da composição. Rápido, sem paragem.
Porteiros, portagens, seguranças. Vigilantes e video vigilância.
Redes, grades e alarmes. Policia republicana.
Trincos, chaves, fechaduras. Sorria, está a ser coscuvilhado.
Janelas, portas e portões. Vidro fosco, martelado.
Alguém falou em liberdade?
terça-feira, 22 de dezembro de 2015
Nú
Dei-te o meu casaco de folhas e fiquei despido.
E a noite está fria.
A culpa é minha, eu sei. Dei porque quis, tu não me pediste nada. Nem querias, só aceitaste para ser simpática.
Não te preocupes que as folhas hão-de crescer outra vez. E se não morrer enregelado até lá hei-de renascer mais forte.
segunda-feira, 21 de dezembro de 2015
Alerta amarelo
Por enquanto não era grave, era só um aviso.
Estava ali, sentado no chão e embrulhado numa manta até à cabeça, só com o nariz e os olhos de fora. A manta tinha acabado de ser lavada, tal como a roupa toda que trouxera para a casa nova, no entanto já tinha o cheiro a fumo entranhado até à raiz de cada microfibra.
A dança das chamas não traz solução nenhuma, apenas distrai. Era isso que fazia, brincava com o fogo para se distrair. Imaginava figuras em cada contorno de cada labareda. Figuras que corriam atrás umas das outras à medida que as labaredas saltavam de uma brasa para outra.
Quão familiares lhe pareciam aquelas labaredas. Corriam, corriam, mas não apanhavam nada.
Meteu uma mão fora da manta e esticou o braço. Quando o recolheu, o alerta passou de amarelo a laranja. O conteúdo da garrafa aproximava-se perigosamente do fim.
domingo, 20 de dezembro de 2015
sábado, 19 de dezembro de 2015
Infinitamente... sem fim
Já la vão duas semanas. Não foi por
esquecimento ou por falta de interesse, foi mesmo por falta de tempo.
Embora tarde, aqui vai, ainda a tempo, a
história.
No princípio do verão do longínquo ano de
2013 o Luis Reina falou comigo e pediu-me para escrever um texto para uma
exposição de pintura. Fez o mesmo pedido a outros amigos e no fim os vários textos seriam entregues a uma pintora sua amiga que
iria pintar um quadro inspirado em cada um deles. O tema seria o espaço, o
universo, as estrelas, os textos deveriam ser entregues o mais tardar até ao
final desse ano, a pintora Rosalina Milhazes teria o ano de 2014 para pintar os
quadros e a exposição seria no ano de 2015.
Um texto sobre as estrelas? Olha que eu não
acredito nessas coisas da astrologia, ainda argumentei eu, a ver se me
escapava. Não consegui. O Luís não deixou.
Os meses passaram, a inspiração não
aparecia e o Luís não parava de perguntar pelo texto.
Foi já no mês de Dezembro que a ideia
surgiu. Tinha estado a ler sobre a personagem e resolvi aproveitá-la para a
minha história, a que dei o título de “Baba Yaga”.
O texto foi originalmente escrito em
inglês, mas a pedido do Luís traduzi-o para português para que todos pudessem entender. Isto porque a exposição
iria consistir na exibição dos quadros lado a lado com uma folha com a história
que lhe deu origem.
Porque a maioria das pessoas não sabe quem
é Baba Yaga, aqui ficam três links explicativos, o primeiro da Wikipédia, o
segundo de um concerto de música clássica com uma obra de Mussorgsky cujo nome
faz referência a Baba Yaga (The Hat of Baba Yaga), e o terceiro de uma versão rock da mesma obra, pela
banda Emerson, Lake and Palmer.
E foi assim que no dia cinco de Dezembro
fiquei a conhecer a Rosalina Milhazes e o Museu D. Diogo de Sousa, em Braga. A
ambos e também ao Luís Reina o meu muito obrigado por me permitirem participar.
Parabéns à Rosalina pela pintura. A parte que verdadeiramente (me) interessa da
história está no quadro.
A exposição de pintura decorre em
simultâneo com uma outra de fotografia (astrofotografia) de Diogo Magalhães
Sant’Ana. A não perder também.
Pelo meio tivemos uma demonstração de
Tai-Chi feita Pelo Diogo Sant’Ana e pelo Luis. Parabéns aos dois.
Por fim deixo aqui o link do Museu, e a
história que deu origem ao quadro, primeiro na versão original inglesa e a
seguir na tradução para português.
A exposição está patente ao público até 29
de Janeiro de 2016. Quem puder visite.
//
Baba Yaga
Baba Yaga
It was a hot summer night. I was laying on the grass
facing the infinite sky, full of millions of shining stars.
The earth was still warm from daylight Sun, the bed of
herbs and leaves was soft and fluffy, the only sounds were my own breathing,
the whisper of the wind on the trees and the hoot of a distant owl.
From time to time a falling star lights up in the
celestial dome. Small signs of movement in an Universe that seems static.
Slowly my eyes began to close and I ceased to see the
Polar Star, The Milky Way, and all the remaining millions of small dots that
garnish the whole sky.
Suddenly a flying
mortar appeared and stopped right in from of me. A hand appeared over the edge
wielding a pestle and I heard a voice saying:
- I came to take you.
- Where are you taking me?
- To your beloved one.
The simple mention of her removes all the fear from my thoughts. I entered the mortar and we flew across the universe to a distant planet.
- I came to take you.
- Where are you taking me?
- To your beloved one.
The simple mention of her removes all the fear from my thoughts. I entered the mortar and we flew across the universe to a distant planet.
It was day, the sky was pink and instead of clouds
there were huge flowers hanging from the top. Daylight was so intense I closed
my eyes for a moment.
I felt a hand
settled on my own hand.
- Baba Yaga, is that you? I asked.
The only answer was a greater grip on my hand.
I opened my eyes and…
- Baba Yaga, is that you? I asked.
The only answer was a greater grip on my hand.
I opened my eyes and…
She
was there by my side, holding my hand and smiling at me.
//
//
Baba Yaga
Era uma quente noite de verão. Estava
deitado no chão olhando o céu infinito, cheio de milhões de estrelas.
A terra ainda estava quente dos raios do
Sol, o leito de ervas e folhas era suave e macio, os únicos sons que ouvia eram
a minha própria respiração, o murmurar da brisa nas folhas das árvores e o piar
distante de uma coruja.
De tempos a tempos uma estrela cadente
iluminava o céu. Pequenos sinais de movimento num Universo que parecia
estático.
Lentamente os meus olhos foram-se fechando
e deixei de ver a Estrela Polar, A Via Láctea, e todos os outros milhões de
pequenos pontos luminosos que enfeitavam o céu.
Subitamente um almofariz voador apareceu e
parou mesmo à minha frente. Uma mão surgiu sobre o rebordo, empunhando um pilão
e ouvi uma voz dizer:
- Vim para te levar.
- Para onde me levas?
- Para junto da tua amada.
A simples menção dela fez com que o medo desaparecesse dos meus pensamentos. Entrei
para o almofariz e voámos através do Universo até um planeta distante.
Era de dia, o céu era cor de rosa e em vez
de nuvens tinha flores enormes pendendo do topo. A luz era tão intensa que
fechei os olhos por um instante.
De repente senti uma mão pousar sobre a
minha.
- Baba Yaga, és tu? Perguntei.
Em resposta a mão apertou a minha com mais
força.
Abri os olhos e…
Ela
estava a meu lado, segurando-me a mão e sorrindo para mim.
//
Correcção: "a Universe" e não "an Universe".
Obrigado professora
Correcção: "a Universe" e não "an Universe".
Obrigado professora
sexta-feira, 18 de dezembro de 2015
Comunicações
Ainda sou do tempo das trocas de linhas. Quem diz isto não é um velho caquético, de bengala e barba branca, sou eu e não sou assim tão velho.
Tantas, tantas, tantas vezes que se marcava um número e a chamada ia parar a outro lado, levantava-se o auscultador, sim que os telefones da época tinham auscultador, e já estava alguém a conversar na mesma linha, ou aparecia depois.
E as (des)conversas: "ó minha senhora, desligue se faz favor que eu já estava aqui a conversar primeiro.", ou "desliga lá essa #$%&" vê lá se queres que eu te mande prá =)/&?»>@§".
Sim, a tecnologia evoluiu muito, estas coisas hoje já não acontecem. Continuam no entanto a acontecer outras que sempre existiram e que fazem parte da natureza humana.
Diz-se uma coisa e percebe-se outra.
Escreve-se uma coisa e interpreta-se outra.
Até o silêncio pode ter uma conotação negativa.
Às vezes apetece desistir de tudo.
quinta-feira, 17 de dezembro de 2015
Estação terminal
Pela linha vai a vontade de ir. Nas colunas do cais encosta-se o desejo de ficar. Entre um e outro avançam os ponteiros do relógio, muda a cor dos semáforos, aceleram-se os passos de quem entra e sai, ouvem-se avisos sonoros, apita o comboio.
Abre o sinal, fecham-se portas. Abrem-se bocas de quem fala ao telemóvel, fecham-se olhos de quem tenta dormir.
A viagem é curta mas não há distância para a vontade de partir.
quarta-feira, 16 de dezembro de 2015
Sem rede
Não sou pescador. Nunca fui, acho que nunca hei-de ser, e tenho raiva a quem é.
Mas até eu gostaria de ter rede. Para pescar mensagens e chamadas.
No meio do nada esperei por ti e tu não viestes conforme tinhamos combinado. Esperei tempo demais, até pegar no telemóvel para ver as horas e reparar que não há cobertura de rede.
As horas, essas, foram levadas pelo vento que cria ondas na superfície da lagoa.
Frustrado guardo o aparelho, dirijo-me para o carro e começo a viagem de regresso. Ao aproximar-me da estrada principal chega um sinal de mensagem. Encosto o carro para ler. É tua. Dizes que não podes ir por causa de uma desculpa qualquer.
O habitual.
terça-feira, 15 de dezembro de 2015
segunda-feira, 14 de dezembro de 2015
A chegada dos reforços
Não é possível que tão poucas nuvens transportem tamanha quantidade de água.
Mas elas foram chamar as amigas.
E as amigas das amigas.
E as...
domingo, 13 de dezembro de 2015
Uma pauta em branco
As cinco linhas e os quatro espaços riscados no céu estão ainda em branco. Poderiam ser da melodia do silêncio. Mas não.
Em breve, quando a tempestade chegar ficarão cheios de notas, como um estendal carregado de colcheias e semifusas, largando as suas gotas de água sobre quem se atrever a passar por baixo.
sábado, 12 de dezembro de 2015
A ribeira da imaginação
Às vezes sento-me num banquinho de pedra que existe no muro que ladeia a ribeira. Não é muito confortável, nem a vista é muito agradável, mas com algum esforço e um pouco de imaginação conseguem-se arranjar pontos de vista interessantes. É preciso não esquecer que se trata apenas de uma ribeira urbana poluída.
Não há muito para fazer naquele banquinho. Apenas imaginar. Imaginar que a realidade não é aquilo que temos à nossa frente mas as ideias que saem da nossa cabeça.
Depois de desviar o olhar da ribeira, acaba-se a imaginação e a vida continua.
sexta-feira, 11 de dezembro de 2015
A boa disposição
A boa disposição deveria estar sempre presente.
Acontece que a teoria nem sempre se aplica na prática. E a tradição já não é o que era.
Porque quando vêm marrar connosco e foder-nos os cornos, é uma questão de tempo até haver merda.
Da grossa.
quinta-feira, 10 de dezembro de 2015
No manicómio do mundo
Estive quase a ser levado para um manicómio.
Mas onze dias depois consegui voltar a ter acesso ao meu bom e velho computador e tudo se recompôs.
Primeiro foram as caixas e os sacos que não paravam de se acumular.
O computador coitado jazia desligado e inerte debaixo de um monte de coisas que nem sei descrever.
Aos poucos uma caixa ou um saco foram sendo retirados e arrumados e comecei a vislumbrá-lo.
Primeiro a cauda do rato, depois o rato propriamente dito, a seguir a letra Q do teclado. Aos poucos foram aparecendo todas as restantes letras até formar o alfabeto completo.
Mas faltava sempre qualquer coisa, um cabo, uma ficha, ou a paciência. É que as caixas e os sacos não paravam de reclamar prioridade.
Com o desaparecimento de mais algumas caixas e sacos surgiu finalmente o espaço necessário para colocar a secretária e instalar o computador.
Isso aconteceu ao décimo dia. Ontem portanto. Quando chegou finalmente a hora de carregar no botão vermelho e despoletar a reacção em cadeia que iria originar a explosão de alegria por que tanto ansiava... nada.
Sim, isso mesmo, nada. O ecrã estava preto.
Tantos sacos e caixas à minha espera (quase todos ainda, no fundo) e um computador sem funcionar à minha frente. Um teste rápido daqui, uma experiência a correr dali e o veredicto final: a placa gráfica morreu.
Feitas as contas chego à conclusão que é mais barato fazer um aumento de memória do que comprar uma gráfica nova. Isto não é a solução do problema obviamente, é apenas um remedeio por falta de dinheiro. Com o aumento da memória para 6GB, e eu estava mesmo a precisar de aumentar a memória, só tinha 2GB, posso usar a gráfica integrada na motherboard sem constrangimentos. No futuro, quando tiver dinheiro logo compro uma gráfica nova.
E pronto, a história acabou por ter um final feliz para os restantes pacientes do manicómio: livraram-se de entrar em contacto comigo.
domingo, 29 de novembro de 2015
sexta-feira, 27 de novembro de 2015
Um repuxo na praça
Era quase inverno, anoitecia cedo e
arrefecia mais cedo ainda. Muito antes de os ponteiros do relógio chegarem à
hora do jantar já o prenúncio frio da noite convidava mais a ficar em casa do
que a expor-se ao vento, na praça.
No entanto, foi precisamente ali, junto ao
repuxo, que combinara encontrar-se. Havia uma razão para isso. Aquele local,
àquela hora estaria practicamente deserto, com excepção de um ou outro passante
apressado no seu caminho de regresso a casa.
Não se importava. O que tinha para dizer
não era nada de caloroso ou reconfortante. Era antes a fria despedida da
desilusão.
Sim, sentia-se desiludido, frustrado e
cansado. Sobretudo cansado de remar. Há meses, anos, que remava cada vez com
mais vigor na tentativa de se aproximar. O que acontecia era que cada vez
estavam mais longe porque a corrente da indiferença e do desprezo eram mais
fortes.
Sim, perdera, e por muito que lhe custasse
tinha que o admitir e parar de uma vez por todas, antes de se cansar mais.
quinta-feira, 26 de novembro de 2015
É por ali
Há encruzilhadas com que nos deparamos e nas quais temos dificuldade em encontrar o caminho certo.
É por ali, achamos nós.
É por ali, sugere alguém apontando um caminho diferente.
É por ali, assegura outro alguém, seguro da sua certeza, indicando um outro caminho.
O caminho certo é sempre por ali. Resta saber qual deles.
quarta-feira, 25 de novembro de 2015
Da utilidade das coisas
Entre muitas utilidades que tem a fotografia está também o facto de nos mostrar pormenores até aí desconhecidos.
Já passei no Rossio em Lisboa milhares de vezes, Já olhei também várias vezes para esta foto (e outras similares) tirada em 2013. E eis que hoje a amplio e vejo que tem ali um relógio no qual nunca tinha reparado.
Só por isso já valeu a pena ter tirado a foto.
terça-feira, 24 de novembro de 2015
segunda-feira, 23 de novembro de 2015
Dois dedos de conversa
O Ti Manel da Azinheira não gostava que
parassem ao portão da sua propriedade. Dizia que dava azar.
Mas o Ti Manel estava morto e não havia com
que se preocupar, por isso foi ali mesmo que fez parar o rebanho. Havia erva
com fartura, suficiente para entreter os animais por alguns minutos enquanto
esperava pela camioneta da carreira. Lá dentro, esperava, vinha a sua amada de
regresso da vila. No caminho até à aldeia teriam tempo de por a conversa em
dia.domingo, 22 de novembro de 2015
A vela
Não fui eu que a acendi. Foi ela. Com que
intenção não sei, talvez fosse para me agradar. Ela sabe que eu gosto de velas.
Não me passou pela cabeça nem um minuto que
fosse para criar um ambiente romântico. Não há qualquer tipo de romantismo
entre nós. Talvez ela também gostasse de velas e eu nunca tivesse reparado.
Depois sentou-se a meu lado, tirou os
sapatos, colocou as pernas sobre o sofá e encostou a cabeça no meu ombro. Quando
se sentiu instalada e confortável, disse apenas: não te mexas, quando eu
adormecer tapa-me e deixa-me ficar aqui.
quinta-feira, 19 de novembro de 2015
A mudança II
Mais uma mudança, mais uma viagem. Uma vida
velha a (re)começar de novo.
Ainda não mudei quase nada e já me doem as
costas e as pernas de tanto subir e descer escadas.
Parei um bocado para pensar e cheguei a uma
constatação curiosa: assim a olho, calculo que uns setenta ou oitenta por cento
dos meus pertences são pacotes de açúcar, muitos (quando digo muitos é muitos
mesmo) ainda cheios porque não consigo arranjar tempo para os esvaziar.
Estou a ficar um bocado farto disto, se
voltar a ter de mudar vai tudo fora. Da despensa à sala, passando pela cozinha
e pelo quarto de dormir, tenho pacotes de açúcar em todo o lado. Felizmente só
tenho estas quatro divisões, caso contrário sei lá até onde iria a colecção.
Quando acabar de mudar as caixas de açúcar
e as pastas de arquivo só falta o resto. E o resto é fácil, é tão pouca coisa.
quarta-feira, 18 de novembro de 2015
O cadeirão
Quando o vi, não me agradou particularmente
a ideia de o ter ali. Mais uma coisa para encher a casa, pensei. É algo que
nunca me passou pela cabeça que pudesse vir a ter, simplesmente porque é um
objecto onde nunca gastaria o meu dinheiro.
Mas depois de passar por ele duas vezes e
de o olhar de cima a baixo, mudei de ideias. Talvez possa ser útil.
Fazer planos, ordenar as ideias,
estabelecer espectativas são coisas que nunca resultaram comigo. Há sempre algo
que acontece ao contrário.
Se eu me sentar ali, e ligar o turbo para
aquilo abanar à velocidade máxima de forma a chocalhar bem as ideias talvez
seja uma boa ideia. Pode ser que resulte nalgum pensamento positivo.
terça-feira, 17 de novembro de 2015
As tábuas do meu caminho
O caminho é longo. Talvez não leve a lado nenhum, em boa verdade a maior parte dos caminhos não levam a lado nenhum. Isso só por si não é grave, na maioria das situações, sair daqui é um destino mais do que suficiente. ^
Tábua após tábua aproximamo-nos do início de um novo amanhã.
segunda-feira, 16 de novembro de 2015
Tentar apanhar o vento
Tentaram apanhá-lo. Mas ele, vento, soprou com quanta força tinha, pelos ares inóspitos que cobrem toda a terra, através dos mais pequenos orifícios, por sobre os obstáculos que lhe interpuseram no caminho.
No fim, vencedor, retirou-se para o reino das nuvens. Pelo caminho ficaram os ramos secos e retorcidos, despidos das folhas que os vestiam com cores de primavera.
domingo, 15 de novembro de 2015
O urso
Não passava de um animal. Irracional e inerte. Não raciocinava nem se mexia. Mas via as coisas à sua maneira. E custava-lhe a entender o mundo que o rodeava. Sobretudo quando esse mundo incluía humanos. Não percebia porque é que eram todos iguais.
Sabia distinguir todos os ursos que conhecia, os que habitavam na sua zona e com os quais se cruzava. Todos tinham a sua personalidade, o seu jeito próprio de fazer as coisas.
Mas os humanos faziam-lhe confusão. Tirando as aparências, a cor do pelo que lhes cobria a cabeça, a cor e o feitio das peles de outros animas com que cobriam o corpo e a que chamavam roupas, tudo o resto, o essencial, era igual em todos: todos eram superiores aos restantes seres, inclusivamente entre eles alguns eram mais superiores do que outros, todos eram donos de alguma coisa, todos viviam dentro de muros fechados à chave para se guardarem a si e às suas coisas.
Que vida estúpida devia ser a dos humanos. Não trocaria nunca a sua vida de peluche por uma dessas.
sábado, 14 de novembro de 2015
O rio que passa na cidade
Numa mesma imagem
O rio e a cidade
O fim do dia e o começo da noite
O céu e a terra
A escuridão e a luz
A ponte e a margem
A solidão e a companhia
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sexta-feira, 13 de novembro de 2015
Um lugar especial
Havia uma atracção especial por este lugar.
Era o lugar de destino preferido sempre que queria estar só. Perdera a conta às
horas infindáveis que ali tinha passado, e ao número de vezes que lá tinha ido.
Muitas em qualquer dos casos.
Ir lá talvez não resolvesse nada, nem
sequer proporcionasse nenhuma ideia brilhante. Era apenas um escape.
quinta-feira, 12 de novembro de 2015
A menina dança?
Percorri o salão, primeiro com o olhar para me certificar de que a costa estava livre, depois em passos curtos estudados, contornando as mesas, as cadeiras, as pessoas, até chegar junto dela.
Abeirei-me, inclinei-me para a frente com as mãos atrás das costas e perguntei-lhe: A menina dança?
Maria Costa olhou-me de alto a baixo primeiro, depois respondeu mostrando que a costa afinal não estava livre, pelo menos de preconceitos.
Não, disse ela, não dançava, e achava até uma ousadia e uma insolência da minha parte fazer-lhe tal proposta. Nunca as nossas duas classes tão afastadas no tempo e no espaço se poderiam aproximar nem que fosse temporariamente por meio de uma simples dança. Que não voltasse nunca mais a dirigir-lhe a palavra.
quarta-feira, 11 de novembro de 2015
Espaço cósmico
A antena paranóica está a captar qualquer coisa vinda do espaço cómico.
É uma invasão de grelhadores voadores vindos do planeta vermelho.
Do planeta vermelho vêm homenzinhos verdes com antenas.
Os homenzinhos verdes com antenas trazem os seus cães com cabeça verde e os seus gatos com olhos verdes.
terça-feira, 10 de novembro de 2015
segunda-feira, 9 de novembro de 2015
Caracolada
Primeiro que tudo foi necessário arregaçar as mangas.
Espero que a sociedade protectora dos caracóis, ou lá como aquilo se chama não me processe.
Eu juro que não os comi.
Se há aqui alguém que comeu alguma coisa foram os caracóis.
Acho que exagerei um bocado na dose.
É para evitar reincidências.
Detesto caracóis reincidentes.
domingo, 8 de novembro de 2015
A mudança
O caracol transporta consigo o que é indispensável à sua existência.
O humano transporta consigo, e com todos os outros humanos dos quais se rodeia nestas circunstâncias, o que é supérfluo para a sua degenerescência.
sexta-feira, 6 de novembro de 2015
O palhaço triste
O palhaço andava triste. As coisas até
teriam graça se não fossem tão tristes. Tudo tinha a sua piada, mas ninguém lhe
achava graça.
O palhaço ria-se de tudo, até de si
próprio, sobretudo de si próprio. Mas era constantemente acusado de estar
sempre a brincar, de não levar as coisas a sério. Como se a vida fosse para
levar a sério.
Um dia alguém o acusou até de se sentir
ofendido. E era com uma brincadeira, imaginem se fosse a sério. Como se não
houvesse já coisas bastantes a separá-los, agora até uma simples brincadeira os
afastava mais.
Não era isso que queria. Por isso resolveu
que daí em diante iria ficar calado. Assim não ofenderia ninguém.
Continuaria a ser palhaço, porque isso não
se deixa nunca, a única diferença é que passaria a ser o palhaço silencioso.
quinta-feira, 5 de novembro de 2015
Pedra sobre pedra
Não sei exactamente de onde veio. Apareceu, ficou por algum tempo e depois desapareceu. Mesmo que quisesse não saberia onde procurá-la. Porque a verdade é que não quero. Não serviria de nada. Partiu de livre vontade, deixá-la ir. Fica a obra.
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